A varejista de autopeças Fortbras é uma das empresas menos conhecidas do portfólio Advent – mas sua estratégia de consolidação do setor vem ganhando tração.
Nascida em 2016, com a aquisição de cinco varejistas do mesmo dono que atuavam principalmente no Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, a empresa que então faturava R$ 400 milhões deve fechar este ano com receita de R$ 1,25 bilhão.
Ontem, a Fortbras fechou sua terceira aquisição, da varejista mineira, a BHZ, de Belo Horizonte. E a pista para mais consolidação continua livre: o mercado de reposição de autopeças movimenta R$ 35 bilhões no Brasil e as 10 maiores varejistas juntas respondem por apenas 11%. Nos Estados Unidos, as top 5 já dominam 70% a 80% do mercado.
A Fortbras é um negócio pequeno para os padrões da Advent – que já investiu no Fleury, na Estácio e comprou o controle do Walmart no Brasil. A gestora não abre valores, mas o balanço da Fortbras aponta que a aquisição que deu origem à companhia há pouco menos de três anos saiu por R$ 340 milhões.
Desde então, a companhia fez mais duas aquisições financiadas com novos aportes: a da Menil, no interior de São Paulo, e a da União, forte no Espírito Santo, Rio de Janeiro e na Bahia. A aquisição da BHZ, feita com o caixa da empresa, ajuda a completar o mapa: une o interior de São Paulo à Bahia ao colonizar o território mineiro, ampliando as sinergias logísticas. Hoje, ao todo, são 74 lojas.
O molho está na rentabilidade: a margem bruta é superior a 30% e a margem EBITDA está na casa dos dois dígitos. “É um negócio resiliente e altamente gerador de caixa”, diz Wilson Rosa, sócio da Advent.
A ideia de investir em autopeças surgiu em 2014, na mesma época em que a Advent decidiu que queria investir em supermercados. Com a economia embicando para baixo, a gestora procurava negócios resistentes a crises. Estudou o mercado americano e viu que lá, mesmo no tenebroso ano de 2008, a queda no varejo de autopeças foi pequena, seguida por uma forte recuperação em 2009.
“Quando a coisa aperta você pode atrasar a troca da pastilha de freio do seu carro por alguns meses”, diz Rosa. “Mas você vai ter que trocar”.
O que determina as vendas no segmento não são as vendas de carros novos, mas sim a frota de veículos rodantes. As varejistas de autopeças miram o mercado de reposição, de veículos com mais de 3 anos, que já não estão mais na garantia de fábrica.
Tradicionalmente, o mercado brasileiro funciona da seguinte forma: as grandes fabricantes, como Bosch e Cofap, vendem para distribuidoras, que repassam para mais de 30 mil varejistas – em geral regionais e de controle familiar.
Com escala, a Fortbras negocia direto com os fabricantes e elimina a distribuidora da cadeia, se apropriando de uma margem maior.
Esse é um dos poucos segmentos da economia que não é tão sensível a preço. Numa pesquisa feita em 2015 pela Advent, disponibilidade de material e tempo de entrega apareceram como fatores mais preponderantes na decisão de compra do que o valor da peça.
“Quem vai na loja comprar a peça não é quem está pagando no fim das contas”, diz Rosa. “Normalmente é o mecânico que compra, e não o dono do carro”.
Unindo empresas diferentes, a Fortbras vem aumentado o sortimento. Enquanto as cinco varejistas que deram origem à empresa eram mais focadas em peças elétricas, a Menil, de Ribeirão Preto, era mais focada em peças mecânicas. Hoje, a cadeira de fornecedores já foi integrada e todas as lojas dispõem da mesma gama de produtos. O resultado: um aumento de 15% nas vendas mesmas lojas no ano passado.
A principal dificuldade é ter que ajustar o carro enquanto ele anda: fazer a integração das lojas, ao mesmo tempo em que empreende uma forte expansão orgânica. A meta é abrir uma nova loja por mês este ano e duas ao mês em 2020.
Para encarar o desafio, a Advent acaba de escalar Rogério Messias, que passou nove anos como diretor de operações da Quero-Quero, sua investida no setor de varejo de materiais de construção que nasceu com uma tese parecida: consolidar um mercado altamente pulverizado.
Enquanto a Quero-Quero está mais redonda, preparada para ir a mercado, a Advent ainda não pensa em sair da Fortbras. Os recursos vieram do último fundo da Advent, captado no começo de 2015. “Ainda tem muito para crescer”, diz Rosa. A companhia está em processo de diligência para uma nova aquisição – e já mira um faturamento de R$ 2 bilhões no próximo ano.