A rede gaúcha de casa e construção Quero-Quero quer estrear na Bolsa no primeiro trimestre de 2018. Itaú BBA, Merrill Lynch e BTG Pactual já foram contratados para coordenar o IPO.
A operação vai ser a porta de saída para a Advent, que comprou o controle da companhia no fim de 2008. A oferta deve ser integralmente secundária, sem levantar recursos para o caixa da empresa. A fatia que será vendida ainda não foi definida.
Com 270 lojas na região Sul – a grande maioria no Rio Grande do Sul – a Quero-Quero fatura R$ 1,1 bilhão e é um misto de Leroy Merlin com Casas Bahia. O carro-chefe são os materiais para construção, mas as lojas vendem também móveis e eletrodomésticos.
A rede tem ainda uma ampla gama de produtos financeiros, que representam cerca de 30% das receitas, segundo fontes próximas à companhia. Além de conceder empréstimos pessoais e financiamentos, a Quero-Quero é dona da Verdecard, uma bandeira de cartões com mais de 2 milhões de plásticos emitidos e que é aceita em mais de 200 mil estabelecimentos na região Sul.
Ao contrário das grandes redes, a Quero-Quero se baseia num modelo de lojas menores, em cidades de pequeno e médio porte, com foco nas classes C e D. Até 2009, a sede da companhia ficava na pequena Santo Cristo, de apenas 14 mil habitantes, onde nasceu o negócio – a mudança para Cachoeirinha, nas proximidades de Porto Alegre aconteceu apenas após a entrada da Advent.
Quando entrou no negócio, a gestora tinha metas agressivas. O plano era ampliar o número de lojas de 170 para 400 até o fim de 2013, com abertura orgânica de unidades e a compra de redes dentro e fora da região Sul.
Mas o Brasil piorou muito, e a crise atingiu em cheio o mercado de construção. O ritmo de abertura de lojas foi menor que o esperado e a companhia acabou comprando apenas pequenos concorrentes regionais. A receita, no entanto, cresce a taxas “expressivas”, segundo as fontes próximas à companhia. Desde 2010, a Quero-Quero é liderada por Peter Furakawa, que comandou a International Meal Company (IMC) – investida da Advent e dona das redes Viena e Frango Assado – antes do IPO.
Depois de dois anos de queda, o varejo de materiais de construção voltou a crescer neste ano. A previsão da Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco) é que o faturamento do setor cresça 6%.
O IPO vai testar o apetite do mercado pelo segmento, que não tem representantes listados em Bolsa no Brasil. A BR Home Centers, fusão entre a Casa Show e a TendTudo, é outra empresa do setor que está na fila para abrir capital.
O mercado de material de construção movimenta US$ 26 bilhões ao ano e é bastante pulverizado: os cinco maiores players têm 17% do mercado. A líder é a Leroy Merlin. Há pouco mais de um ano, a Telhanorte – segunda empresa do setor e controlada pela Saint-Gobain – comprou a rede Tumelero, também focada no mercado gaúcho.
Se for bem-sucedida, a oferta da Quero-Quero também vai marcar o desembarque da Advent de uma das companhias há mais tempo em seu portfólio. Em novembro, o fundo vendeu o restante das ações que ainda detinha na IMC, e, um mês antes, liquidou sua participação nos laboratórios Fleury com um block trade na Bolsa.
As operações de saída incluíram ainda o IPO da farmacêutica Biotoscana e a venda do TCP, que opera o terminal de contêineres de Paranaguá, para a China Merchants. A gestora quis vender também sua participação na Restoque – dona da Le Lis Blanc e Dudalina – mas não encontrou demanda, e ainda busca comprador para a Faculdade da Serra Gaúcha (FSG).
Enquanto liquida os investimentos mais antigos, a Advent planta sua próxima safra. Só neste ano, comprou a quantiQ, que pertencia à Braskem, e uma fatia minoritária na Easynvest, dois meses antes do Itaú anunciar a compra de sua participação na XP. E mais recentemente, comprou um bloco relevante de ações na Estácio.