A OPEP+, o poderoso cartel que une a velha OPEP e a Rússia, anunciou no domingo cortes de 1,15 milhão de barris por dia, com a Arábia Saudita liderando o movimento com 500 mil barris/dia.
O anúncio pegou o mercado de surpresa e derrubou as previsões otimistas sobre a continuidade de preços baixos do petróleo. O corte veio em resposta a uma trajetória de queda do barril, acentuada pela recente crise dos bancos nos Estados Unidos e na Europa.
O serviço de imprensa estatal da Arábia Saudita chamou o corte de produção de “uma medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado de petróleo”.
Porém o que vemos é Riad não apenas se apresentando como uma potência emergente que enfrenta Washington, mas também se tornando uma força ainda maior nos mercados globais de energia desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022.
A Arábia Saudita e seus aliados da OPEP parecem estar priorizando suas próprias demandas econômicas e planos de gasto de vários trilhões de dólares que dependem de preços altos do petróleo, em vez de laços geopolíticos históricos.
Nossa projeção é um preço do barril entre US$ 80 e US$ 85 no primeiro semestre e entre US$ 90 e US$ 95 no segundo semestre, com esse preço passando pontualmente da barreira dos US$ 100, mas resultando em uma média de US$ 87,61 no ano. Esse nosso cenário não muda com o anúncio de domingo.
O fato é que a OPEP retomou o poder de aumentar os preços globais. Antes, quando havia um movimento de corte desse tipo, os Estados Unidos compensavam com mais produção de shale, inclusive tomando mercado da OPEP. Agora, como a oferta do shale está apertada e não acompanha mais a demanda, a OPEP perdeu o receio de cortar e entende que ações desse tipo têm efeito imediato no preço.
Na realidade, a OPEP mira um ‘breakeven fiscal’ (um preço que cobre custos, margem e ainda equilibra o balanço fiscal de seus países) de US$ 86, e deve perseguir esse patamar realizando cortes sempre que o preço baixar a patamares próximos de US$ 75.
Por enquanto, o aumento do preço do barril não destrói a demanda mas tem impacto inflacionário – colocando mais pressão sobre os bancos centrais para manter ou até aumentar as taxas de juros. Com isso, contrata-se mais recessão, o que pode deprimir a demanda, suavizando os preços à frente.
Por enquanto, a queda do índice de gerentes de compras da indústria (PMI) da China, que recuou de 51,6 em fevereiro para 50,0 em março, reforça a nossa posição de não alterarmos as projeções para o preço do barril em 2023.
Essa queda significa que a indústria chinesa perdeu força no período devido à exportação ainda fraca, o que freia o crescimento do gigante asiático e, portanto, a demanda por óleo bruto à frente, um dos vetores mais importantes para o preço da commodity.
Ou seja, a sinalização que veio da China ainda não é positiva, e isso pode segurar o preço do barril. Nossa projeção de um preço médio de US$ 87,61 para 2023 é baseada num crescimento chinês de 5%. Mas se a China crescer mais um ponto porcentual, esse preço pode ir a US$ 95,43.
E, no caso de novos cortes da OPEP que levem a uma restrição efetiva de 800 mil barris/dia, nossa estimativa é de que o preço pode chegar a US$ 101,79.
Adriano Pires e Bruno Pascon são diretores do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).