As biofarmacêuticas americanas estão correndo contra o tempo para desenvolver um tratamento contra o coronavírus — que já contaminou quase cinco mil pessoas em 15 países e matou mais de 100.

Pelo menos quatro empresas listadas na Nasdaq anunciaram publicamente que estão trabalhando em vacinas ou tratamentos para os pacientes já infectados pela nova cepa do vírus, que está sendo chamada de ‘2019-nCoV’.

A que parece estar em estágio mais avançado é a Moderna, uma empresa de biotecnologia de Massachusetts.

“A Moderna tem uma vantagem potencial em relação aos fabricantes tradicionais de vacinas porque ela já possui as seqüências que codificam a parte mais imunogênica das proteínas da superfície do vírus, ou os antígenos”, os analistas do Morgan Stanley escreveram em relatório a clientes.

Recentemente, a Moderna trabalhou numa vacina para o vírus da zika que passou da sequência de mRNA (uma molécula que transporta informações genéticas do DNA ao citoplasma) para o estudo clínico em apenas 12 meses — um prazo curto para os padrões do mercado.

Com base no histórico da empresa, o Morgan Stanley acredita que o desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus leve de 3 a 6 meses, da fase do design até os estudos clínicos em voluntários saudáveis, e mais 3 a 6 meses na fase de medir os resultados iniciais.  

A Moderna, que vale US$ 7,3 bilhões na Nasdaq, está desenvolvendo outros 21 tratamentos, incluindo vacinas para a chikungunya e alguns tipos de câncer. No início do mês, a Goldman começou a cobertura da empresa com uma recomendação de compra e target price de US$ 25. Hoje, o papel negocia a US$ 22,2, depois de uma alta expressiva nas últimas semanas.

A Johnson & Johnson’s também está trabalhando numa vacina para o coronavírus. O diretor científico Paul Stoffels disse ontem que a empresa pode criar uma vacina já nos próximos meses, mas que deve levar até um ano para que ela comece a ser vendida.

“Temos dezenas de cientistas trabalhando nisso há duas semanas, então estamos muito confiantes que podemos desenvolver algo que vai funcionar e continuar ativo no longo prazo”, Stoffels disse à CNBC.

Outras duas empresas estão direcionando seus esforços para o tratamento dos já infectados. 

A Regeneron, uma empresa de biotecnologia que já tem sete tratamentos aprovados, está nos estágios iniciais do desenvolvimento de uma cura. A companhia disse que está usando sua ‘tecnologia de rastreio’ para potencialmente produzir anticorpos terapêuticos que combatam o coronavírus. 

Em 2014, durante o surto de Ebola, a Regeneron passou do desenvolvimento para a validação de seu remédio em apenas seis meses. 

Já a Gilead — uma gigante californiana que vale mais de US$ 81 bilhões — anunciou que está discutindo se o Remdesivir (um remédio desenvolvido pela empresa para o tratamento da síndrome respiratória do Oriente Médio, ou MERS) poderia ser usado também para combater o novo coronavírus. A empresa já teria iniciado testes nesse sentido.

O desenvolvimento de um tratamento para o coronavírus se tornou ainda mais urgente nos últimos dias com a dissipação acelerada do vírus e a constatação de que ele seria de alta transmissibilidade.

Um indicador chave para determinar isso é o basic reproductive number (R°), que mede o número esperado de infecções secundárias causadas por um caso padrão em toda a população suscetível. Quando esse indicador está em 1 significa que a doença está estável; acima de 1 é que o vírus está se espalhando. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calculou um basic reproductive number de entre 1,4 e 2,5 pontos para o coronavírus — nível igual ou até superior ao da síndrome respiratória aguda grave (SARS) em seus primeiros meses. 

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