O mercado de roupas e acessórios para tênis é dominado por marcas centenárias e consolidadas como a Fila, a Wilson e a Babolat — isso, sem falar nas gigantes Nike e Adidas, que também tem linhas voltadas para os praticantes do esporte. 

Ainda assim, dois ex-analistas de M&A do Itaú BBA decidiram tentar a sorte nesse nicho.

Jorge Castello Branco okJorge Castello Branco e Felipe Tersi largaram suas carreiras na Faria Lima para criar a Slyce Apparel, que quer se posicionar como a marca premium dos tenistas brasileiros.

“É verdade que tem vários grandes players internacionais, mas quando você vai ver quais realmente estão investindo no Brasil, são muito poucos,” Jorge disse ao Brazil Journal. “A Fila é uma das poucas que tem investido forte por aqui.”

Segundo ele, os jogadores brasileiros acabam usando produtos importados porque, além de haver poucas marcas brasileiras, há um gap de qualidade entre os produtos nacionais e os de fora.

Com a Slyce, o objetivo é não só fechar esse gap como oferecer um produto superior ao de marcas como a Fila. 

Para criar a Slyce, os fundadores dizem que passaram oito meses desenvolvendo os produtos e indo atrás dos melhores fornecedores. “Fizemos isso sem pensar muito no custo, tentando criar realmente um produto que fosse maravilhoso e que a gente pudesse precificar alto,” disse Felipe.

O lançamento oficial da linha masculina será no início do mês que vem, e a ideia é precificar os produtos acima de marcas como a Fila, mas abaixo de uma Lacoste ou On, por exemplo.

Enquanto uma camiseta da Fila custa na faixa de R$ 150 e uma da Lacoste e On sai por cerca de R$ 600, a camiseta mais premium da Slyce vai custar na faixa de R$ 450, com uma linha mais acessível (de treino) saindo por R$ 350. 

Felipe Tersi“Desenvolvemos um tecido próprio, que é leve e respirável, o que é importante para um país como o Brasil, mas que também não gruda no corpo quando você sua, porque colocamos vários furinhos que ajudam nisso,” disse Felipe. “Além disso, a camiseta não tem costura nenhuma, tudo é selado e cortado a laser. A manga também é mais curta para não incomodar o tenista no saque.”

Criar um produto de qualidade para precificar lá em cima é difícil — mas não é o maior desafio. 

O complicado mesmo é convencer os brasileiros — que em geral tendem a valorizar produtos importados — de que vale a pena pagar caro por um produto de uma marca nova e local.

A Slyce tentou resolver isso com um trabalho de construção de marca nas redes sociais (chegou a 10 mil seguidores em 2 meses) e com o patrocínio de atletas — que vão servir como validadores da qualidade dos produtos.

A Slyce fechou o patrocínio de Felipe Meligeni, o número 130 do mundo, e Gustavo Heide, o número 179 do ranking da ATP. Ambos eram patrocinados pela Fila. 

Além de dar as roupas e acessórios aos atletas, a Slyce combinou de pagar um valor fixo mensal (relativamente baixo para os padrões do tênis profissional), além de um bônus atrelado ao desempenho deles nos torneios e no ranking. 

Em junho, a marca deve anunciar um terceiro atleta a ser patrocinado. 

Depois de lançar a linha masculina, a Slyce pretende lançar ainda este ano a feminina, seguida de uma linha infanto-juvenil e de uma de roupas para o dia a dia. 

A meta dos fundadores é chegar a um faturamento de R$ 10 milhões em 2025, o primeiro ano cheio da operação. Para chegar nessa receita, seria preciso que 1% dos 3 milhões de praticantes de tênis no Brasil fizessem pelo menos uma compra na marca por ano.

Até agora, todo o investimento na Slyce foi feito com capital próprio dos fundadores, que disseram que estão “colocando em risco” tudo que ganharam em suas carreiras de três anos em M&A. 

Mas, segundo eles, para lançar as novas coleções será preciso fazer uma rodada, provavelmente com family & friends.