Há pouco mais de três meses, a Rede soltou uma bomba no mercado de adquirentes (as empresas que capturam e processam as transações de cartões.)
A empresa do Itaú anunciou que passaria a antecipar os recebíveis de clientes a taxa zero: os lojistas com conta no Itaú receberiam os pagamentos em dois dias, sem custo extra.
A notícia derrubou as ações das concorrentes, na medida em que o mercado viu que a guerra de preços poderia piorar.
Passado um trimestre, os números publicados pelos concorrentes sugerem que, pelo menos por enquanto, o tiro de canhão da Rede pode ter caído na água.
A Rede perdeu margem e share, enquanto a Cielo, que também derrubou taxas, ganhou mercado. Na Stone, o ponteiro de preço nem sequer mexeu: a empresa continuou ganhando share, ao mesmo tempo em que manteve o valor cobrado dos lojistas.
“Das duas uma: ou antecipação de recebíveis não é tão importante quanto se imaginava, ou eles não fizeram de uma maneira efetiva,” diz o analista de uma gestora que acompanha o setor.
A Rede afirma que sua estratégia com a redução das taxas mirou o mercado conhecido no setor de adquirência como de “varejo”, tipicamente clientes que faturam até R$ 30 milhões. Nesse segmento, o volume de credenciamento aumentou 70% no segundo trimestre, no ano contra ano, de acordo com a companhia.
“Desde o ano passado, mudamos nossa estrutura para focar menos nas grandes contas, que são menos rentáveis e vem sendo servidas por outros adquirentes com taxas negativas”, o CEO da Rede, Marcos Magalhães, disse ao Brazil Journal. Como as grandes contas concentram mais volume, diz Marcos, é natural que o valor total processado (TPV) tenha crescido menos.
O TPV da Rede aumentou 0,9% no segundo trimestre frente ao primeiro, enquanto a Cielo ganhou 4,9% e a Stone — que parte de uma base bem menor – avançou 12,5%. A GetNet, do Santander, também foi perdedora no trimestre: o TPV caiu 1,5%. (Nas contas do BTG, considerando esses quatro players, os números sugerem que o share da Rede caiu de 32,9% para 32,1%.)
Os números do SafraPay — que também tem uma política de taxa zero — ainda não saíram, mas duas fontes do mercado apontam que seu desempenho tem sido errático: em alguns trimestres ela ganha share para logo depois devolver.
Já o ‘take rate’ da Rede — a taxa que fica com o adquirente — recuou cerca de 14% nas contas de analistas. Na Cielo, esta queda foi de 12%, mas com um efeito bem mais visível de aumento no volume e na receita.
Na Stone, o take rate foi de 1,85%, apenas 0,01 ponto percentual abaixo do primeiro trimestre. “Isso reforça a tese de que atendimento ao cliente e NPS [net promotion score] talvez sejam mais relevantes do que somente o preço em si”, diz um outro analista.
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Os Marinho vão tentar ter seus dias de Frias.
A Globo se associou à Stone para juntos atacarem os microempreendedores individuais, o mercado cativo da PagSeguro.
Numa joint venture anunciada hoje, a Globo terá uma fatia de 33% em troca de aportar uma valor equivalente a R$ 461 milhões em mídia — o que equivale a um ano e três meses dos gastos de marketing da PagSeguro.
Caio Fiuza, que até agora era o diretor comercial da Stone, será o CEO da JV.
Trata-se do primeiro desafiante de peso da PagSeguro, que criou o mercado de adquirência para microempreendedores e cujas máquinas ‘Minizinha’ e ‘Moderninha’ viraram sinônimo da categoria.
Com um negócio de mídia em declínio, a Globo está hedgeando seu futuro com apostas seletivas em fintechs. Há dois anos, tornou-se acionista da Órama, uma plataforma de investimentos, no mesmo modelo de ‘media for equity’.
Em Nova York, as ações da Stone subiram 3,6%; as da PagSeguro recuaram 5,9%.