An English version of this post is available here.
No que uma fonte descreveu como “uma briga de foice no escuro,” o Itaú ontem à noite detonou uma bomba no setor de adquirência ao zerar a taxa de antecipação de recebíveis para clientes da Rede, sua credenciadora de cartões.
O movimento, inédito no setor, é um ataque frontal aos novos entrantes do mercado — Stone e PagSeguro — e equivale a uma guerra de preços.
A ação da Stone desaba 16% no pré-pregão de hoje, enquanto a PagSeguro cai 10,4%. Ontem, os papeis já haviam perdido 4,1% e 1,6%, respectivamente.
A partir de 2 de maio, o lojista que vender no cartão de crédito à vista com a maquininha Rede e receber no Itaú terá os valores depositados em dois dias com custo zero de antecipação. As condições valem para atuais e novos clientes da Rede com faturamento de até R$ 30 milhões/ano.
Os novos entrantes dizem que as coisas não vão ficar assim.
Fontes próximas a Stone e PagSeguro dizem que o Itaú está engajando em concorrência predatória ao oferecer, a custo zero, um produto que tem no mínimo um custo de oportunidade de 0,5% ao mês (a taxa CDI). Para as novas entrantes, a prática equivale a ‘dumping’.
Além disso, ao oferecer estas condições apenas ao cliente que recebe numa conta no Itaú, o banco estaria fazendo uma “venda casada”, uma conduta ilegal.
Para os novos entrantes, ambas as condutas violam o Termo de Compromisso de Cessação (TCC) firmado pelo Itaú e Rede com o CADE em julho do ano passado.
O TCC foi firmado para por fim a uma investigação que apurava práticas anticompetitivas do Itaú e Rede. As entrantes alegavam que os bancos estavam impedindo que o chamado Sistema de Controle das Garantias (SCG) — uma espécie de clearing da antecipação de recebíveis — lesse os recebíveis dos novos entrantes, efetivamente criando uma reserva de mercado.
O movimento do Itaú acontece dias depois que o Banco Central publicou uma nova regulação sobre o SCG que mudou a dinâmica do setor.
Na regra anterior, os bancos podiam travar 100% dos recebíveis de um cliente, mesmo que estivessem antecipando apenas uma fração daquele montante. Os novos entrantes reclamavam deste arranjo.
A nova regra, publicada dia 8 de abril, prevê que os bancos só podem travar o montante associado à antecipação de crédito — mas também obrigou os novos entrantes a aderir ao ‘novo SCG’.
O impacto do movimento do Itaú sobre os concorrentes só ficará claro nos próximos dias. “O importante será ver se o Itaú está baixando o seu ‘take rate’ ou apenas cobrando a mesma coisa de um jeito diferente,” diz um investidor.
Em outras palavras, a dúvida é se o movimento do Itaú equivale a uma redução do preço final para o lojista — como a Cielo tem feito desde agosto — ou se o banco embutirá a receita perdida no MDR da Rede, a taxa cobrada do lojista, criando o que se chama no mercado de “MDRzão.” Neste caso, um MDR de 3% e uma taxa de antecipação de 2,39%, por exemplo, viram um MDR de 5,39%.
Em outras palavras, a dúvida é se o movimento do Itaú equivale a uma redução do preço final para o lojista — como a Cielo tem feito desde agosto — ou se o banco embutirá a receita perdida no MDR da Rede, a taxa cobrada do lojista, criando o que se chama no mercado de “MDRzão.” Neste caso, um MDR de 3% e uma taxa de antecipação de 2,39%, por exemplo, viram um MDR de 5,39%.
O material publicitário do Itaú diz que “taxas de MDR e aluguel permanecem as mesmas.”
Frequentemente, o resultado trazido pela antecipação de recebíveis não é fácil de separar do resultado geral das empresas.
A PagSeguro, por exemplo, oferece ao lojista a possibilidade de receber em 2, 15 ou 30 dias — e cobra um MDR diferente para cada escolha, embutindo na taxa o custo do dinheiro.
Já a Stone foca no chamado ‘take rate’ — a soma de todas as receitas dividida pelo volume transacionado. O ‘take rate’ inclui o MDR transacional (a taxa cobrada do lojista), a mensalidade cobrada pelo uso da maquininha e do software, e as receitas com antecipação de recebíveis.
O Itaú disse que as novas condições vieram para ficar.
“Essa é uma iniciativa que atinge positivamente milhões de empreendedores e com potencial para influenciar outros movimentos no setor, especialmente porque não estamos nos referindo a uma oferta de tempo limitado,” Marcos Magalhães, diretor-presidente da Rede, disse num comunicado ao mercado.
“Tem que ser bom para todos: clientes, empresa, acionistas e para o país. Nosso compromisso sempre foi e continuará sendo o de liderar o setor por meio de práticas e condições que estimulem o desenvolvimento da economia e do negócio de nossos clientes.”