Quando Anderson Cavalcante ficou sabendo do leilão dos direitos da autobiografia de Britney Spears no Brasil, o publisher não hesitou.
“Eu falei na hora que esse livro tinha que ser nosso,” ele disse ao Brazil Journal.
O problema: sua editora, a Buzz, é uma nanica no mercado editorial, com menos de 1% de market share das vendas deste ano.
“Foi uma disputa de Davi contra Golias,” orgulha-se ele. “Quando começou o leilão havia oito editoras interessadas – todas as grandes do Brasil. Nós éramos os únicos pequenininhos.”
Cinco rodadas depois, no entanto, haviam sobrado apenas dois no páreo, e a Buzz conseguiu levar o livro com uma proposta de adiantar para a Simon & Schuster (a editora americana que publicou a obra) um valor relevante dos direitos autorais.
Anderson não abre o valor exato, mas diz que foi algo entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões.
Segundo ele, o racional por trás da aposta foi simples.
“O Brasil tem o maior fã clube de Britney do mundo. Quando teve aquela campanha global ‘Free Britney’, por exemplo, eles conseguiram projetar um letreiro no Congresso Nacional,” disse ele. “Além disso, tinha o fator do ineditismo. Todo mundo já tinha falado da tutela dela — a mãe, a irmã, os amigos — mas ela mesma nunca tinha falado desse assunto.”
Anderson também olhou as vendas de outras autobiografias recentes e fez as contas. “A biografia da Gisele Bndchen, por exemplo, vendeu 106 mil exemplares no Brasil, e a de Michelle Obama, uns 180 mil. Era claro pra mim que a de Britney venderia mais.”
A aposta já está se pagando. Apenas na pré-venda, A Mulher em Mim vendeu 44 mil exemplares. Depois do lançamento, que ocorreu em 24 de outubro, já foram mais de 12 mil livros vendidos.
A estimativa de Anderson é que a obra venda 110 mil exemplares até o final do ano — atingindo o montante necessário para a editora recuperar o valor gasto com o adiantamento dos direitos autorais e o marketing de lançamento.
Para ele, o livro tem potencial para vender mais de 300 mil exemplares no Brasil, gerando um retorno robusto.
A autobiografia de Britney é a maior aposta – de longe – da história da Buzz, fundada em 2016 depois de Anderson trabalhar mais de duas décadas em grandes editoras como a Gente e a Sextante. (Em 2021, a Buzz foi comprada pela Wiser Educação, a holding do empresário Flávio Augusto, numa troca de ações).
A Buzz nasceu focada apenas em livros de negócios e autoajuda — e já publicou best-sellers dentro desses nichos.
Foi ela que publicou, por exemplo, Seja Foda, de Caio Carneiro, que vendeu quase 1 milhão de exemplares e, segundo Anderson, foi o primeiro best-seller brasileiro com um palavrão no título.
A Buzz também publicou Geração de Valor, de Flávio Augusto, que vendeu 300 mil exemplares; Pega a Visão, de Rick Chester, que vendeu 200 mil; e Nunca Foi Sorte, de Adriana Santana (180 mil).
Segundo Anderson, apesar de ter um market share baixo — seu acervo é pequeno e ela faz poucos lançamentos por ano — a Buzz tem um dos maiores faturamentos por capa, segundo dados da Nielsen.
“Normalmente lançamos um livro de negócios, um de autoajuda e um de ficção por mês. Este ano vamos lançar só 36 títulos. Lanço pouco para poder ter foco e trabalhar bem os livros. Título, capa, tom, tudo é muito bem pensado.”
O sucesso de pré-venda de A Mulher em Mim teve a ver com uma estratégia bem sucedida de marketing da Buzz — e também com um componente de sorte.
A Buzz fez um trabalho extenso de divulgação do livro junto a influenciadores e à comunidade de fãs de Britney, incluindo eventos na Avenida Paulista. A editora também criou um brinde que seria entregue junto com o livro — e que só foi divulgado semanas antes do lançamento.
“Criamos um movimento para pedir para a Britney vir ao Brasil, então o brinde desta primeira edição do livro foi uma camiseta com as palavras ‘Britney comes to Brazil’,” disse ele.
Mas talvez o que mais tenha impulsionado as vendas tenha sido a entrevista que Britney deu à revista People, dando spoilers de temas tratados no livro.
O principal: um aborto que ela fez aos 19 anos, quando namorava Justin Timberlake.