Depois de quatro anos, a PDG acaba de entrar para o seleto grupo de empresas brasileiras que saíram vivas da recuperação judicial.

No processo, a incorporadora reestruturou uma dívida de R$ 5,3 bilhões junto a 22 mil credores, e agora espera voltar a acessar crédito para retomar seus projetos. 

As ações da empresa dispararam 87% com o anúncio para R$ 3,08, dando à nova PDG um valor de mercado de R$ 172 milhões.  

Estrela do último grande ciclo imobiliário do País, a PDG chegou à bolsa em 2007 junto a 15 outros nomes do setor de real estate. 

A empresa logo despontou como a consolidadora e, depois de comprar a CHL, Goldfarb e a Agre (formada pela fusão da Agra, Klabin Segall e Abyara), chegou a ser a maior incorporadora do País, avaliada em quase R$ 15 bilhões em 2011. 

Mas já no ano seguinte, a coisa começou a desandar. A empresa surpreendeu o mercado ao revisar seu orçamento de obras, e, além das dificuldades de integrar as aquisições, o mercado de imóveis também perdeu fôlego com o custo de construção subindo. 

No auge, a PDG era uma empresa sem controlador definido, comandada por executivos experientes do mercado financeiro. O mercado passou a avaliar que a empresa havia crescido com o incentivo errado, priorizando o curto prazo (e a remuneração dos administradores) em detrimento de um crescimento sustentável.  

A partir de 2012, a Vinci Partners  começou a injetar dinheiro na PDG, tentando devolver ao negócio o olho do dono. Mas a coisa não tinha mais jeito: a empresa passou cinco anos acumulando prejuízos e tentando renegociar as dívidas com os bancos, até entrar em recuperação judicial em 2017. 

Agora, a PDG emerge da RJ querendo acessar crédito bancário e financiamentos destinados ao setor para voltar a fazer lançamentos, o que não acontece desde 2015. 

“Mantivemos contato com bancos, mas em recuperação judicial, mesmo gostando do negócio, eles não liberavam financiamentos. Agora, esperamos que esse cenário possa mudar”, o CEO da PDG, Augusto Reis, disse ao Brazil Journal. 

Em paralelo, a empresa também conversa com fundos que investem em distressed. 

“É uma alternativa em estudo, apesar de ser um crédito mais caro”, diz Augusto.

A saída da RJ não muda a situação do balanço da empresa: em 2020, a PDG teve receita de R$ 552 milhões e prejuízo de R$ 445 milhões.  

O plano para os próximos 5 anos é focar em empreendimentos apenas no centro expandido de São Paulo: a companhia já está na fase final de aprovação da Prefeitura para um lançamento na Zona Leste da cidade.  

A decisão de dar o start no projeto vai depender do financiamento e também das condições do mercado — recentemente, o preço da matéria-prima subiu muito, mas Augusto enxerga alguma estabilização nos preços. 

Mesmo com todas as dificuldades dos últimos anos, a PDG manteve um banco de terrenos avaliado em R$ 6,5 bilhões, ou 17 mil unidades. 

Nem todos os terrenos estão em São Paulo, e os que não estiverem deverão ser vendidos. (A empresa não diz quanto eles respondem do valor total.) 

Outro foco da PDG é na Vernyy, sua recém-lançada subsidiária que presta serviços para terceiros aproveitando a experiência da incorporadora. 

A Vernyy tem três focos: gestão de condomínios por meio de uma plataforma digital, apoio ao desenvolvimento de projetos de empresas menores e serviços de engenharia para construção, reformas e retrofit. 

Desde maio, a PDG tem um novo controlador, o fundo VKR, de Vladimir Ranevsky, que foi CEO da companhia durante boa parte da RJ, de 2016 a 2020.

Vladimir converteu R$ 200 milhões em créditos que tinha contra a PDG em participação acionária e ficou com 56,68% da companhia.

Vladimir, que foi substituído por Augusto, informou que o investimento é apenas financeiro e que não vai interferir na gestão. A participação da Vinci foi diluída ao longo do tempo e hoje não é relevante.

A PDG saiu da recuperação judicial, mas ainda tem compromissos com o plano — o pagamento aos credores se dará em 25 anos, mas antes disso virão novos aumentos de capital que podem incluir a conversão de dívida em ações.

A empresa também tem ainda 9 obras paradas — esse número já foi de 17 — e espera que a saída da RJ facilite soluções de financiamento para retomar esses projetos.