Os analistas da Merrill Lynch foram aos supermercados e bares de São Paulo.  Nas gôndolas e nas mesas, viram as marcas da Ambev sob pressão.

“Nossa principal conclusão é que a AmBev aumentou os preços da cerveja no canal on-premise (bares e restaurantes) em 8%-12% desde setembro, enquanto no canal off-premise (os supermercados), os preços subiram apenas 7%, em média, abaixo da inflação recorrente de 8,5%. Além disso, os concorrentes não seguiram a Ambev, uma vez que os preços de Kirin caíram 9% e ficaram estáveis na Petropolis.”
 
Em outras palavras, num ano que tem se provado uma tempestade perfeita, a Ambev está focada em rentabilidade, e está disposta a perder participação de mercado em troca disso. Aliás, os analistas dizem ter notado que outras cervejarias, principalmente a Kirin, continuam a ganhar espaço nos bares.
 
A Merrill também ouviu dos donos de bares que ainda não há sinais de recuperação no consumo, e que os volumes estão menores do que no ano passado. 
 
Segundo o Sistema de Controle da Produção de Bebidas (Sicobe), a produção de cerveja no Brasil caiu 3,7% em novembro, em volume, em relação ao mesmo mês do ano passado — o que dá, segundo a Merrill, um volume abaixo da média dos últimos cinco anos para o mês. Até agora, no quarto trimestre, a queda é de 5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
 
Para os investidores, a questão é se essa fraqueza é passageira (e ligada à crise econômica) ou estrutural, o que significaria que a Ambev terá que ceder no preço se quiser voltar a crescer.
 
A conclusão dos analistas:  “Embora acreditemos que as margens de cerveja da Ambev no 3T16 bateram no piso e que a concorrência agressiva não é sustentável a longo prazo, acreditamos que a capacidade dos consumidores de aguentar novos aumentos de preços reais [acima da inflação] é reduzida depois que os preços da cerveja subiram por muito tempo acima da inflação.”
 
Por via das dúvidas, a Merrill reduziu o preço-alvo da Ambev de R$22 para R$19,50. A ação fechou ontem a R$16,30.