Até agora, a equipe formada por Paulo Guedes tem revelado sua preocupação com a estabilidade do próximo governo, com a continuidade das políticas públicas acertadas do Governo Temer, e com um certo filtro meritocrático.
Ainda que alguns nomes não tenham ainda sido testados em cargos do porte que ocuparão, todos ali têm uma visão de mundo racional-liberal, e são pessoas corretas.
Mas o que surpreende na discussão dos nomes — se é que a palavra ‘discussão’ merece ser empregada — é a resistência a muitos dos indicados, com o desmerecimento de biografias e tentativas de assassinar reputações construídas ao longo de décadas.
Num momento em que a Política pede ruptura com o passado, será que isto implica jogar fora o bebê junto com a água do banho? Qual ‘pecado’ é grave o suficiente para inviabilizar um nome? E quais informações sobre os cotados são reais, e quais são fake news?
Nas últimas semanas, nunca a expressão ‘procurar chifre em cabeça de cavalo’ se mostrou tão atual em Brasília: fontes anônimas usaram colunas e sites para atacar quase todos os indicados ao novo Governo. As críticas partem principalmente de sites alinhados com o futuro Governo.
Comecemos pelo caso de Ivan Monteiro, hoje CEO da Petrobras, e indicado por Guedes para o comando do Banco do Brasil.
Ivan é ‘acusado’ de ser apadrinhado de Aldemir Bendine, com quem trabalhou no Banco do Brasil e, posteriormente, na Petrobras. (Bendine está preso na Lava Jato, mas nunca houve sequer uma denúncia contra Ivan.)
O executivo tem 58 anos e fez carreira no próprio Banco do Brasil, onde começou como escriturário e alcançou a vice-presidência de finanças em 2009. Quando chegou à diretoria financeira da Petrobras, em fevereiro de 2015, a estatal ainda não conseguia fechar seu balanço de 2014: havia resistência dos auditores independentes em aprovar o cálculo das perdas com a corrupção.
Trabalhando com Bendine e mais tarde com Pedro Parente, Ivan botou a casa em ordem: começou um programa de gestão de dívidas, empurrando os vencimentos para frente, e fez corajosas baixas contábeis, levando em conta os preços de petróleo mais baixos e revertendo avaliações exageradas feitas pelas gestões petistas. De lá para cá, o endividamento da empresa caiu de 5,2 vezes sua geração de caixa para menos de 3x.
Qualquer pessoa racional entende que Ivan já provou ser um homem de Estado, e não o vassalo de terceiros. Mas a narrativa de oposição lhe nega o direito de ter personalidade própria.
O mesmo tipo de crítica atingiu Joaquim Levy assim que seu nome começou a ser ventilado para o BNDES. Setores que tentam marcar seu território no novo Governo correram para carimbá-lo como ‘dilmista’: é o preço que Levy pagou por servir ao País numa hora crítica, ciente de que, tendo uma chefe como Dilma, tinha tanto a ganhar quanto a perder.
Perdeu — e agora, se Guedes não o tivesse bancado, teriam perdido de novo.
Quando o nome de Pedro Guimarães, do Banco Brasil Plural, foi sondado para a Caixa, seus adversários usaram sua própria mulher, que vem a ser filha de um empreiteiro preso na Lava Jato. Não há até agora qualquer acusação (muito menos prova) de que Guimarães tenha feito algo de errado, mas o Brasil pós-Lava Jato criou a condenação por associação. É a nova lei.
Outro caso abundante — na criação de deturpações — foi contra Adriano Pires, que já colaborou inúmeras vezes com este site e cujo histórico fala por si só.
Um liberal de carteirinha e talvez o maior especialista em petróleo do País, Adriano é cotado para o Ministério das Minas e Energia.
Sua militância na centro-direita começou ainda nos anos 80, quando foi alijado pela esquerda da UFRJ assim que voltou de seu PhD na França. Com ideias diferentes, mais próximas de Roberto Campos do que de Luiz Pinguelli Rosa, Adriano foi colocado na geladeira e teve que mudar de universidade para continuar dando aula.
Como consultor, ao longo dos últimos 30 anos, Adriano se bateu constante e consistentemente pela redução do tamanho do Estado e por mais concorrência nos setores de petróleo, gás e energia elétrica. Procurado pela imprensa para comentar os desmandos de Dilma, chicoteava o Governo quase todo dia, no jornais, rádio e TV.
E como toda obra é reconhecida, tornou-se o Inimigo Número 1 do sindicato dos petroleiros, que o vêem como um “entreguista”.
Este é o Adriano Pires que todo o mercado conhece.
Nos últimos dias, no entanto, a oposição a seu nome tentou pintar outro quadro: ele seria o candidato do MDB, de Sarney, de Lobão, e seria até um informante dos EUA. (A realidade: o Wikileaks mostrou que a Embaixada americana no Brasil enviava seus artigos e opiniões publicadas no Brasil para Washington.)
Um grande jornal, sem checar, chegou a publicar que Adriano faz parte de conselho de empresas “investigadas”. (A realidade: o único conselho do qual o consultor faz parte é a Caramuru Alimentos, cuja família controladora está entre as mais sérias do País.) O outro cotado para o MME, Paulo Pedrosa, também é vítima de críticas reducionistas.
Servir ao País num cargo público lembra o velho ditado: “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.” Ganha-se mal, fazem-se inimigos, e geralmente se realiza muito pouco da agenda pretendida.
É lamentável que as forças do atraso ainda piorem as coisas, acusando sem fundamento e condenando sem provas.