Em 2020, André Ferraz teve que vender o braço de mídia de sua startup, a InLoco, para o Magazine Luiza.
O serviço da startup consistia essencialmente em usar geolocalização para originar clientes para lojas físicas com publicidade online. Com a pandemia, e as lojas fechadas, não havia para onde levar os clientes e a receita caiu mais de 90%
Ao vender a empresa, André manteve sua tecnologia proprietária de geolocalização e resolveu focar na Incognia, uma vertical recém-lançada que se propunha a usar os dados de geolocalização para prevenir fraudes.
“A Incognia ainda não faturava nada,” André disse ao Brazil Journal. “A empresa voltou literalmente para o zero e tivemos que reconstruir tudo de novo.”
A reconstrução parece estar dando certo. A Incognia acaba de ser avaliada em US$ 115 milhões (post-money) numa rodada liderada pela Point72 Ventures, a gestora de VC de Steven Cohen, o investidor que fez fortuna com seu hedge fund SAC Capital e é dono dos New York Mets. A startup levantou US$ 15,5 milhões na capitalização.
O valuation de hoje já é maior que o da Série B da InLoco em 2019, pouco antes da venda da vertical de mídia para o Magalu. Naquela rodada, a startup havia sido avaliada em US$ 75 milhões.
A Incognia — que usa sensores de wifi e bluetooth para capturar os dados com uma precisão maior que a do GPS — só começou a operar de fato em outubro de 2020, quando fechou com seu primeiro cliente, o banco BMG.
A startup tem ajudado o banco a aumentar sua taxa de aprovação dos novos clientes que abrem contas digitais.
“Parte do processo de aprovação de uma nova conta é consultar as informações da pessoa nos birôs de crédito. E uma dessas informações que normalmente está desatualizada é o endereço,” disse André. “Com a geolocalização conseguimos ver o endereço de fato da pessoa, o que aumenta a abertura de contas.”
Mas essa é a solução mais simples das três que a startup tem hoje.
A Incognia também ataca a chamada fraude transacional – quando um hacker invade a conta bancária de um cliente – e impede transferências indevidas quando há um roubo de celular.
No primeiro caso, a startup consegue identificar se uma transação está sendo feita em localizações que o usuário normalmente faz — se o lugar for esquisito, ela bloqueia a transação.
Já para mitigar o roubo de celular, a Incognia consegue criar limites dinâmicos de acordo com a localização: se a pessoa estiver fazendo um PIX de casa, o limite será maior do que um PIX feito na rua, por exemplo.
“A geolocalização como forma de identidade digital é 17x mais precisa do que o Face ID, segundo uma pesquisa interna nossa,” disse André. “Ela é muito precisa porque cada pessoa tem um comportamento único em termos de geolocalização.”
André diz ainda que a identidade digital por geolocalização também diminui as fricções do processo, já que o usuário não tem que fazer nada para validar sua identidade.
Ainda assim, ele diz que os dois produtos são complementares.
“A gente compete, mas ao mesmo tempo somos complementares às empresas de biometria facial. Normalmente somos usados primeiro e, se não der resultado (porque o cliente desligou o GPS, por exemplo), eles acionam as outras soluções,” disse o fundador.
A Incognia atende 25 clientes em quatro países — Brasil, EUA, México e Índia — incluindo empresas como o iFood, WillBank, NextDoor e FortBrasil.
O annual recurring revenue (ARR) deve bater US$ 10 milhões em “um ou dois trimestres,” disse André, com 30% da receita vindo de fora do Brasil. O objetivo é chegar a 50% até o final do ano.
Segundo ele, a empresa ainda queima caixa, mas, com o ARR de US$ 10 milhões, já deve chegar no breakeven. “Nosso unit economics é muito saudável, com uma margem muito alta. Como agora somos puramente software, temos uma margem bem mais alta que o negócio de mídia que vendemos.”