A ameaça de greve dos 90 mil trabalhadores das ferrovias de transporte de cargas nos Estados Unidos é a mais nova ameaça para a economia americana. 

A paralisação poderá interromper o fornecimento de insumos e desestabilizar o escoamento da produção de produtos agropecuários — num momento em que o país ainda lida com uma inflação bem acima da meta e enfrenta o risco de uma recessão. 

A malha ferroviária americana se estende por mais de 200 mil quilômetros. O prejuízo diário no caso de uma greve geral seria de US$ 2 bilhões, de acordo com uma estimativa da Association of American Railroads

Segundo a associação, seriam necessárias 467 mil carretas de caminhão ao dia para substituir os trens de carga. 

Diariamente, 7.000 composições ferroviárias carregam 40% do transporte de longa distância no país. A greve, se for adiante, poderá levar à interrupção de indústrias e atingir o varejo. Cerca de 75% dos automóveis são entregues pelos trilhos. 

A greve afetaria também os preços dos alimentos não apenas nos mercados americanos, mas em todo o mundo. Metade do volume total de fertilizantes utilizados nas fazendas do país é transportada por trens, e um terço da exportação de grãos é carregada pelos trilhos.

A cadeia de suprimentos vinha se recuperando da crise causada pela pandemia. A greve seria um duro choque, e, por isso, o governo americano e os congressistas acompanham com atenção as negociações entre os sindicatos e as empresas. 

Um grupo de trabalho do governo, convocado pelo presidente Joe Biden, recomendou que os ferroviários recebam um reajuste imediato de 14,1% e um aumento total de 24% ao longo dos próximos dois anos. 

Os salários são apenas parte das reivindicações. Uma das queixas dos ferroviários diz respeito à imprevisibilidade na grade de trabalho. Muitos precisam ficar disponíveis sete dias por semana, porque podem ser convocados para assumir as locomotivas sem serem notificados com antecedência. Dessa maneira, dizem, fica impossível programar os momentos de lazer com a família e as suas demais atividades.   

Os sindicatos querem que os contratos tragam maiores proteções aos trabalhadores em relação às folgas e eventuais faltas. As negociações avançaram pouco nos últimos dias, e, sem um acordo, os trabalhadores devem dar início à paralisação a partir da sexta-feira. 

O mercado de trabalho apertado — com desemprego historicamente baixo e oferta de vagas acima da disponibilidade de candidatos para ocupá-las — tem fortalecido os movimentos por reajustes salariais e melhores condições no emprego.