As posições short na Bolsa brasileira caíram nas últimas semanas. Alguns fundos long only têm usado o caixa para comprar ações, e gestores estrangeiros colocaram quase R$ 8 bilhões na B3 em junho.

São movimentos tímidos perto da quantidade de recursos que saiu da Bolsa desde o ano passado, mas suficientes para fazer o Ibovespa subir cerca de 10% neste mês e 15% desde o começo de maio.

Mas a queda do mercado hoje mostra como a retomada ainda é frágil – e o humor dos investidores, volátil.

“Passamos a fase da histeria, em que havia uma completa distorção dos preços dos ativos,” diz Elmer Ferraz, gestor de ações da Verde, que aumentou a exposição à Bolsa brasileira em abril.

Embora o mercado esteja longe do pico, diz o gestor, “faz sentido haver realizações” como a de hoje.

A Bolsa sobe no boato, mas alguns gestores e analistas acreditam que, desta vez, os investidores exageraram e começaram a comprar cedo demais, antecipando além do razoável o rali que pode ocorrer com a queda da Selic.

Como o comunicado de ontem do Copom levantou dúvidas sobre um corte de juros na próxima reunião de agosto, muitos ligaram o sinal de alerta.

Um relatório do Morgan Stanley divulgado nesta semana mostra que os papéis de um grupo de 30 empresas cujos resultados são sensíveis à redução dos juros já subiram, em média, 40% desde o fim de março.

Para o banco, a Selic só vai começar a cair em setembro, então a alta ocorreu seis meses antes do possível primeiro corte.

Nos seis ciclos anteriores de baixas de juros no Brasil, que aconteceram nos últimos 20 anos, essas ações só subiram 40% seis meses DEPOIS do primeiro corte – e esse foi o pico de valorização.

Hoje, porém, é difícil encontrar quem acredite que 40% seja o teto para a alta da Bolsa. Primeiro porque os preços das ações estavam baixos demais antes da alta, o que justificaria o ajuste.

“Além disso, é preciso considerar o fluxo de investidores, que indica que há espaço para aumento de exposição,” diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP.

As pessoas físicas seguem tirando dinheiro da Bolsa, os resgates dos fundos de ações continuam (embora mais leves) e o movimento dos estrangeiros têm sido errático. Em maio, por exemplo, eles sacaram R$ 4,2 bilhões da B3.

Em tese, esses investidores podem voltar ao mercado quando se convencerem de que as condições estão de fato favoráveis.

A XP faz uma pesquisa mensal para monitorar o interesse dos clientes por Bolsa. Na edição de junho, que acaba de ser concluída, 49% dos entrevistados disseram ter a intenção de aumentar os investimentos em ações.

É o maior percentual desde janeiro de 2022. Em maio, o número estava em apenas 9%.

Se o governo não atrapalhar, e o cenário externo ficar controlado, esses investidores podem encontrar um cenário relativamente benigno caso decidam investir em ações.

Para Ferraz, da Verde, o mercado deve entrar a partir de agora na fase de normalização. A expectativa de queda dos juros deve começar a ser incorporada aos resultados das empresas, melhorando as projeções de lucro.

Com isso, diz o gestor, o Ibovespa, excluindo ações de commodities, pode valorizar mais 16% apenas para retornar à média de equity risk premium. “Isso precifica a média, não um cenário de Brasil indo bem.”