O fundo de private equity da XP comprou o controle do hospital de oftalmologia CBV — e já está em conversas avançadas com outras cinco clínicas e hospitais dos olhos para iniciar um movimento de consolidação de um dos nichos mais pulverizados da saúde.

O investimento foi feito pelo FIP XP Private Equity, gerido por Chu Kong, um veterano que fundou o TMG Capital nos anos 90 e passou mais de uma década na Actis, onde foi o responsável pelo investimento na própria XP.

O fundo — que levantou R$ 1,3 bilhão em fevereiro com mais de cinco mil investidores de varejo — investiu R$ 200 milhões no CBV, que vai funcionar como a plataforma para as próximas aquisições. O hospital fatura R$ 80 milhões e faz mais de 100 mil atendimentos/ano.

“O segmento de oftalmologia é extremamente subpenetrado no Brasil,” Chu disse ao Brazil Journal. “É um prato cheio para a consolidação.”

A estimativa é que este mercado movimente entre R$ 8-10 bilhões/ano divididos em mais de cinco mil clínicas e hospitais.

Hoje o único player com capilaridade é o grupo Opty, uma holding criada em 2016 pelo Pátria Investimentos com o mesmo objetivo de consolidação da XP. 

Em quatro anos, a Opty chegou a um share de menos de 5% do mercado privado tanto em número de clínicas quanto em faturamento. Considerando apenas as cidades com mais de 500 mil habitantes (o alvo da holding), a participação é de cerca de 15%.

Fundado em 2004 pelo médico Marcos Ávila, o CBV se transformou em pouco tempo na referência em olhos no Distrito Federal, atendendo de Lula a Dilma Rousseff, e o atual vice-presidente, Hamilton Mourão.

Para liderar o CBV, a XP contratou Rafael Mendes, um ex-sócio da Victoria Partners que terá participação minoritária no negócio. Ávila, o fundador do hospital, continuará como o diretor médico do grupo. 

Mendes quer replicar no CBV o que ele fez na Oncoclínicas, a rede de clínicas para o tratamento de câncer investida pela Victoria. Mendes foi CEO da Oncoclínicas e liderou mais de 30 M&As e parcerias — integrando as empresas e transformando o grupo num dos maiores do segmento.

O CBV pretende comprar hospitais de referência em regiões centrais do País — que servirão como hubs — e depois adquirir clínicas de oftalmologia no entorno. 

“Há uma demanda reprimida muito forte nesse segmento, principalmente em tratamentos de cataratas, retinas vinculadas a diabetes e glaucoma,” diz Mendes. Para efeito de comparação, enquanto os Estados Unidos fazem 10 cirurgias de olhos para cada mil habitantes por ano, o Brasil faz apenas três.  

O investimento no CBV foi o primeiro do recém-lançado fundo de private equity da XP — cujo mandato é investir em empresas do middle market nos setores de saúde, educação, consumo e serviços financeiros. O tíquete médio é de R$ 100 a R$ 200 milhões.

Chu entrou na XP para estruturar a área de private equity.  

Há dois anos fora da Actis, ele planejava se aposentar quando recebeu o convite de Guilherme Benchimol. Em pouco tempo, ele formatou a ideia de criar um produto de PE desenhado para investidores de varejo — algo inédito no mundo. 

O prazo do fundo é de oito anos, com uma opção de saída parcial no quarto ano.

O plano de Chu é abrir outros fundos com esse perfil, democratizando um produto sofisticado e tipicamente inacessível a investidores com menos recursos.

ARQUIVO BJ

Na saúde, a nova menina dos olhos do Pátria