A Elliott Management, uma gestora mais conhecida por suas apostas em ativos distressed, comprou cerca de US$ 2,5 bilhões em ações do SoftBank, levando sua agenda ativista a Masayoshi Son num momento de fragilidade na imagem pública do grupo japonês.

Segundo o The Wall Street Journal, a Elliot se tornou um dos maiores acionistas do conglomerado, com cerca de 3% do capital, e está pressionando por mudanças significativas na gestão.

Em Nova York, há a expectativa de que o Starboard também anuncie uma posição na empresa, uma fonte disse ao Brazil Journal.

Depois da debâcle com o WeWork e do IPO decepcionante do Uber, duas de suas principais investidas, o Softbank hoje negocia a um desconto significativo em relação à soma de suas partes — alguns bancos calculam em 50%. 

10676 00818022 3965 75f0 ab90 dd3e040ff5a1O Softbank é um conglomerado de ativos que inclui uma participação no Alibaba, na antiga Vodafone Japan (agora Softbank KK), na Sprint e no Vision Fund, que investe em empresas que já ficam de pé e estão a poucos anos de um IPO.

Com a notícia do investimento, o ADR do Softbank negociado no mercado de balcão em Nova York subiu 10%, dando a empresa um valor de mercado de US$ 97 bilhões. O papel tem baixa liquidez.

Executivos da Elliot já se reuniram privadamente com o fundador do SoftBank e outros executivos-chave do grupo.  As discussões giram em torno de como melhorar a governança e tornar as decisões de investimento do Vision Fund mais racionais.  A Elliott também quer que o SoftBank recompre entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões em ações.

No ecossistema de venture capital, a agenda da Elliott está sendo interpretada por alguns como uma tentativa de mudar a abordagem do Softbank.  Os problemas com o WeWork consolidaram a percepção pública de que o Softbank costuma pagar valuations estratosféricos e investir em companhias que não geram caixa.

Mas Masa não é um lunático. Seu histórico precisa ser respeitado.

Ao longo dos últimos dez anos, um investimento na Berkshire Hathaway deu um retorno total aos acionistas de 220%. Já um investimento no SoftBank no mesmo período gerou um retorno de 300% em yen e 230% em dólares. (Não é à toa que a Bernstein chama o grupo japonês de ‘The Berkshire of Tech‘).

Analisando um período mais longo — desde 2003 — a empresa de Warren Buffett retornou 359%, frente a uma alta de 415% do Dow Jones. No mesmo período, o SoftBank gerou um retorno de mais de 2.000% (com ajustes cambiais). 

Mas desde que o WeWork implodiu no ano passado, gerando um prejuízo bilionário para o SoftBank, Masa e seu estilo de gestão têm sido colocados em xeque pelo mercado. Em novembro, a empresa reportou seu maior prejuízo trimestral desde que foi fundada há 38 anos. 

O Softbank já se reinventou diversas vezes. 

A empresa começou como uma distribuidora de software (o nome SoftBank surgiu porque ela se vendia como o “banco” dos softwares), antes de entrar na publicação de revistas focadas em tech e na organização de conferências do setor. 

A coisa ficou séria quando Masa investiu no Yahoo e fez um cheque de US$ 20 milhões para um cara que havia sido demitido de vários empregos fundar um site chamado Alibaba.

O Softbank também comprou e fez o turnaround da operação da Vodafone no Japão.   

Em 2016, o SoftBank comprou a ARM, uma empresa que faz o designer de processadores avançados de olho no crescimento da internet das coisas (IoT). Hoje, os chips da ARM estão presentes em 99% dos smartphones do mundo.

Mais recentemente, a empresa foi forçada a assumir o controle do WeWork, dando US$ 5 bi em empréstimos, US$ 1,5 bi em injeção de equity e US$ 3 bi em compras secundárias de equity

As consequências daquela derrapada continuam a reverberar, mas no ano em que Elon Musk está dando uma lição de humildade aos sábios do mercado, que apostavam na falência da Tesla, vai ser interessante ver o que Wall Street acha que tem a ensinar ao japonês que já dizia, há duas décadas, que estava construindo uma empresa para os próximos 300 anos.

SAIBA MAIS

Por dentro da cabeça de Masayoshi Son