A escolha do Governo Lula para o comando da Petros foi recebida com a mesma saraivada de críticas que havia sido direcionada a João Luiz Fukunaga quando indicado à presidência da Previ.

Para a Petros, o escolhido foi o economista Henrique Jager, filiado ao PT e atual assessor do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Jager já foi presidente da fundação dos funcionários da petroleira por breves 17 meses, durante os anos de 2015 e 2016. Chegou ao cargo por indicação do ex-CEO do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, que conheceu durante o tempo em que foi membro do conselho de administração do banco.

Henrique JagerJager também é bastante ligado ao movimento sindical e assessorou o sindicato dos petroleiros, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que comemorou sua indicação.

Sua trajetória, no entanto, não agrada algumas associações de aposentados e funcionários da Petrobras, que estão questionando em diferentes instâncias sua indicação para o fundo.

Seu perfil, assim como o do novo chefe da Previ, tem sido visto como indicativo de que o governo federal voltará a usar as fundações para financiar projetos de interesse do Planalto.

Pares de Jager em outras grandes fundações que eram sócias da Petros em diferentes empreendimentos naquela época disseram ao Brazil Journal que Jager defendia o uso dos recursos dos fundos de pensão em projetos ambiciosos e pouco transparentes – tudo em nome do “desenvolvimento nacional” e sem garantias, deixando o risco para os participantes do fundo.

O que está sob escrutínio agora é a passagem anterior de Jager pelo comando da Petros e também sua atual ligação com a presidência da Petrobras, que pode gerar um viés pró-patrocinadora em vez de pró-beneficiários.

Durante o tempo em que esteve à frente da fundação, no fim do governo Dilma, a Petros lidava com déficits bilionários consecutivos. Parte deles foi ocasionada por percalços de mercado, como a queda das ações da Vale, mas também por investimentos que entraram na mira de operações como a Lava Jato e a Greenfield, e que renderam até uma CPI na Câmara dos Deputados.

Quando chegou à Petros, Jager não tinha experiência na gestão de planos de previdência. Foi na sua gestão que a Petros ampliou os recursos aportados na Invepar, com a compra de uma nova série de debêntures. Foram feitos ainda novos aportes na Norte Energia, a dona da usina hidrelétrica de Belo Monte. Alguns anos depois, a Invepar teve que reestruturar a dívida e Belo Monte entrou na mira de órgãos ambientais.

Na CPI dos fundos de pensão, Jager ainda defendeu o investimento na Sete Brasil, a empresa criada para a construção de sondas para a Petrobras e que entrou na mira da Lava Jato. No ano seguinte, ainda sob sua gestão, a Sete entrou em recuperação judicial.

O balanço de 2015, seu primeiro ano à frente do fundo, teve uma série de ressalvas registradas pela auditoria independente.

Entre as ressalvas estava a anotação de um possível desvio na forma de contabilizar os investimentos diretos e indiretos na Multiner, de R$ 308 milhões. A PwC mencionou que, embora houvesse evidências de que o valor havia se deteriorado, o balanço mostrava valores registrados em anos anteriores. O caso da Multiner é citado na notificação feita pelo Sindicato dos Participantes de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Sinprev), em que consta que Jager foi notificado em processo judicial promovido pela própria Petros.

Além disso, os opositores a Jager também criticam o tempo em que ele foi conselheiro da Eldorado Celulose, na cadeira que cabia à Petros. Na época, a Funcef questionou a investigação interna e denunciou o caso ao Ministério Público, enquanto Jager se calou sobre o assunto.

Os questionamentos têm sido capitaneados pelo Núcleo da Cidadania Petroleira e Sinprev. Eles foram enviados ao Tribunal de Contas da União, à Procuradoria Geral da República, ao conselho da Petros, ao conselho da Petrobras, à ouvidoria do fundo de pensão, e ainda à Previc, o órgão que regula e fiscaliza os fundos de pensão.

Ex-colegas de Jager no conselho de administração do Banco do Brasil dizem que o perfil dele sempre foi de alguém muito técnico nos seis anos em que esteve no colegiado. A Petros também tem enviado uma resposta padrão a seus beneficiários, que questionam a indicação pelos canais da ouvidoria, dizendo que o processo está sendo feito junto com uma empresa de recrutamento e sob o olhar do conselho.

O fundo de pensão disse ao Brazil Journal que Jager ainda não está dando entrevistas, e enviou uma nota dizendo que seu nome atende todos os requisitos do estatuto da fundação. O conselho deliberativo aprovou seu nome na quarta-feira.

Com a indicação oficial, todos os olhos estão voltados agora para a Previc, o regulador que ainda precisa aprovar a indicação. A Petros tem um patrimônio de R$ 123 bilhões. Assim como outras fundações, a expectativa é de que o fundo dos funcionários da Petrobras tenha que voltar a diversificar mais os investimentos para bater metas atuariais, diante da expectativa de queda dos juros.