Nada é mais valioso para o ser humano que a liberdade – em todas as formas que ela pode tomar: a de ir e vir, a liberdade de pensamento, a liberdade financeira, enfim, toda e qualquer possibilidade de expandir a própria vida e preenchê-la de sentido.

Com a pandemia, todos passamos a ter um entendimento diferente da ideia de liberdade. De uma hora para a outra, não podíamos sequer encontrar nossos entes queridos para trocar um beijo ou um abraço. Foi preciso, paradoxalmente, fazer um esforço que limitava a nossa liberdade pessoal — por meio do distanciamento, uso de máscaras e outras medidas profiláticas — para que pudéssemos, no futuro, ter a chance de nos libertarmos em conjunto de uma situação até então impensável.

Passamos a dar muito mais valor a coisas simples, como encontrar os amigos ou ir ao cinema. À medida que nos reacostumamos com uma liberdade que antes dávamos por garantida, eu gostaria de propor uma reflexão sobre o que é, de fato, ser livre.

Muitas vezes as pessoas se acreditam livres, mas são reféns do próprio ego. Compram um carro não pelo prazer de tê-lo, mas pelo status que ele representa, ou vivem numa busca incessante para alimentar a própria vaidade. Só somos livres, de fato, quando conseguimos silenciar nosso ego e fazer o que realmente julgamos importante, a despeito da opinião alheia ou de parâmetros arbitrários.

Nesse sentido, sempre acreditei que a educação é o maior instrumento que temos na busca por liberdade. É ela que nos desperta da inércia e nos permite enxergar outro futuro. É a partir dela que podemos sonhar e realizar nossos sonhos, tomando a rédea da nossa própria história.

Mandela, que fundou uma universidade na prisão onde ficou por 27 anos, sabia disso melhor que ninguém. Enquanto houvesse educação, haveria liberdade. Enquanto sua mente — assim como a dos demais detentos — fosse livre para pensar, poderiam até prender seu corpo, mas jamais seu espírito.

A liberdade individual é um caminho para dentro, um mergulho profundo no autoconhecimento. A educação transforma a água rasa em alto mar. É por meio da fome de saber que nos tornamos curiosos sobre nós mesmos. Quanto mais sabedores de nós, mais autônomos somos, mesmo quando não estamos fisicamente livres (vide Mandela e Viktor Frankl).

É a partir dessa autonomia que podemos exercitar a liberdade como indivíduos inseridos no coletivo. Liberdade não é usar seu máximo poder; é, antes, recusar o poder individual em favor do bem coletivo. Preservar a autonomia ao praticar o autolimite é, portanto, uma forma plena de exercer a liberdade.

Autonomia e autolimite são conceitos que a educação – que liberta – nos ensina. Como escreveu Frankl, “podem roubar tudo de um homem, salvo uma coisa: a última das liberdades humanas – a escolha da atitude pessoal frente a um conjunto de circunstâncias – para decidir seu próprio caminho”.

Em 2022, comemoraremos os 200 anos da independência do Brasil. É uma data simbólica que nos convida a despertar nossa consciência para a liberdade real, para uma liberdade mais profunda. Entre outras coisas, isso significa saber ouvir os outros de fato: tomá-los como iguais e refletir a respeito de suas opiniões, mesmo quando discordam das nossas.

Significa, também, nos libertarmos de amarras simbólicas e não ficarmos reféns do julgamento alheio. Mas, acima de tudo, estender nossa liberdade às outras pessoas por meio da emancipação intelectual e material.

Quem já teve a oportunidade de trabalhar com educação sabe que não há nada mais recompensador que ajudar alguém a crescer nesse sentido — proporcionar liberdade de reflexão a um aluno e aprender com ele. O próprio Mandela escreveu: “Ser livre não é meramente libertar-se dos próprios grilhões, mas viver de um modo que respeite e eleve a liberdade dos outros.”

Que 2022 seja o primeiro ano do nosso despertar coletivo para um Brasil mais livre, harmônico e evoluído, no qual possamos – sem avatares ou metaverso – ser apenas quem somos de verdade.

Daniel Faccini Castanho é presidente do conselho da Anima Educação.