A notícia de que a Apple planeja fabricar um carro elétrico vai fazer com que Wall Street (e o mundo) se pergunte nos próximos dias: por que a Apple não compra a Tesla?
O The Wall Street Journal, o Financial Times e a Bloomberg disseram neste final de semana que a Apple contratou centenas de pessoas para trabalhar no projeto — até agora secreto — de construir um carro elétrico.
O CEO da Apple, Tim Cook, aprovou o projeto — que tem o codinome ‘Titan’ — há quase um ano e o colocou nas mãos de Steve Zadesky, o vp da Apple que hoje toma conta do desenho de produto do iPhone. O Journal disse que o carro será parecido com uma minivan, e que executivos da Apple já foram à Austria para se encontrar com fornecedores.
[Calma: as fotos que ilustram este post não são do protótipo da Apple, e sim de um estudo feito em 2010 por um aluno do Istituto Europeo di Design, em Turim, que tentou imaginar um carro desenhado pela Apple. Mas as fotos mostram o que o mundo está acostumado a esperar da empresa.]
O Titan vai desapontar aqueles que achavam que o atual valor de mercado da Apple — 740 bilhões de dólares — era too much para uma empresa destinada, mais dia menos dia, a sofrer uma desaceleração nas vendas dos seus principais produtos: o iPhone, os Macintosh e o iPad.
Em tese, a notícia também pode complicar a vida da Tesla Motors, cujo fundador e CEO, Elon Musk — o Steve Jobs dos dias de hoje — está causando uma ruptura na indústria automobilística, vendendo carros elétricos com design ultrasexy — e pela internet.
A grande pergunta é: por que a Apple não casa suas competências em design, cadeia de fornecedores e integração de produto com a Tesla, que já desenvolveu uma expertise considerável em engenharia automotiva e baterias elétricas?
Há exatamente um ano, o San Francisco Chronicle descobriu que Musk se reuniu com o chefe da área de fusões e aquisições da Apple (e talvez com o próprio Cook) no primeiro semestre de 2013. Seria razoável especular que, naquele encontro, a Apple tenha falado em comprar a Tesla, e que Musk tenha respondido que preferia construir sua empresa sozinho. Musk confirmou as conversas, mas não quis elaborar.
Seis meses depois daquele encontro, em outubro de 2013, Adnaan Ahmad, analista de tecnologia do banco alemão Berenberg, escreveu uma carta aberta para Cook e Art Levinson (presidente do conselho da Apple) sugerindo que a Apple comprasse a Tesla e buscasse seu futuro na gigantesca indústria automobilística, e não em relógios ou TVs de plasma.
Nos próximos dias, todos os analistas que cobrem a Apple e a Tesla vão ter que dar seu palpite sobre o que faz mais sentido para as duas empresas mais inovadoras do planeta: competir ou colaborar.
A pesquisa e o desenvolvimento de automóveis — ainda mais os elétricos — demanda muito caixa, coisa que a Apple tem de sobra: 180 bilhões de dólares, para ser mais preciso. A Tesla, digamos, não tem tanto assim… (A empresa terminou dezembro com 1,9 bilhão de dólares em caixa e vale 25,5 bilhões de dólares na Nasdaq.)
Além disso, as duas empresas têm brigado por talento, tirando funcionários uma da outra. Numa entrevista recente, Musk disse que a Apple estava oferecendo 250 mil dólares em luvas e salários 60% maiores para funcionários que topassem sair da Tesla.
De acordo com a Bloomberg, além de Zadesky, a Apple tem muitos executivos com experiência na indústria automobilística. O CFO da empresa, Luca Maestri, trabalhou 20 anos na General Motors. Eddy Cue, um dos vps mais importantes da Apple (que hoje coordena a área de software), não só é um apaixonado por carros como também é conselheiro da Ferrari. Finalmente, Marc Newson, um designer industrial que começou na Apple no ano passado, trabalhou num carro conceito para a Ford em 1999.
Musk — que além de carros elétricos quer dar ao mundo viagens espaciais com sua outra empresa, a SpaceX, e investe em energia solar com a SolarCity — é o novo Steve Jobs. Faria todo sentido para a Apple se casar com um empreendedor tão (ou mais) visionário que seu fundador.
De um jeito ou de outro, o Titan mostra que, apesar de morto, as ideias de Steve Jobs permanecem vivas como nunca em Cupertino.