Passado quase um mês do IPO da XP, os bancos começaram a cobrir a ação em sua maioria com recomendação ‘neutra’, sinalizando que não veem um bom ponto de entrada depois da alta de mais de 40% desde a estreia na Nasdaq. 

Por volta das 13 horas, o papel caía 5%. 

Goldman Sachs, UBS, Merrill Lynch e Credit Suisse têm recomendação ‘neutra’, enquanto o JP Morgan e o Morgan Stanley deram o call de compra. O preço-alvo estimado para os próximos 12 meses varia de US$ 40 a US$ 45, enquanto a ação negocia a cerca de US$ 36 (já com a queda de hoje). 

Do ponto de vista dos fundamentos, os analistas são unânimes em afirmar que a XP tem uma posição única para capturar tanto o share dos bancões brasileiros quanto a nova leva de investidores que está saindo da poupança e procurando produtos mais sofisticados para investir — mesmo com o aumento da concorrência de outras plataformas. 

A questão é o valuation

“O alto potencial de crescimento já está precificado”, escreveu a equipe do UBS, que vê a ação negociando a 71 vezes o lucro estimado para 2020. 

Já o JP Morgan acredita que o valuation não está esticado, se ajustado pelo crescimento da companhia. “Vemos um crescimento no lucro por ação de 51% em 2021 e 41% em 2022, o que se traduz em múltiplos de 41 e 28 vezes, respectivamente”. 

A grande dúvida entre os analistas é quanto o revenue yield — a fatia dos ativos sob custódia que se converte em receita para a XP — pode cair com o aumento da concorrência ou mudanças no mix de produtos. 

“O disclosure [transparência] sobre esse assunto é muito limitado”, diz a equipe do Credit Suisse. “Mudanças no mix, comissões menores em asset management e na corretagem, e taxas de juros potencialmente menores podem pesar sobre os revenue yields no longo prazo”. 

Nas contas do CS, no pior cenário — com queda nos fees de gestão, taxa zero para corretagem e mix menos favorável — o yield pode chegar a 0,75% no longo prazo, contra 1,2% em 2019. 

Outra grande questão é o impacto de um potencial encerramento da exclusividade dos agentes autônomos de investimento, que constituem a base de distribuição da XP. Hoje, os AAIs podem trabalhar para apenas uma plataforma, mas a CVM está se preparando para rever as regras.

“Uma competição maior por AAIs pode colocar pressão sobre os custos de comissão, reduzindo as margens”, diz a equipe do CS. 

“Um potencial fim da exclusividade dos agentes autônomos provavelmente não vai mudar a relação entre a XP e os AAIs”, escreveu o Morgan Stanley, que tem preço-alvo de US$ 45 e recomendação de compra. “A marca e a reputações fortes e a ampla infraestrutura que cerca os AAIs dá vantagens à XP.”