O metrô de Nova York é o maior do mundo, com 26 linhas, 425 estações e uma permutação de trens expressos e pinga-pingas (chamados de “locais”) que fazem 8 mil viagens por dia, do Harlem a Chinatown, do JFK ao Lincoln Center.
Os nova-iorquinos costumam ter o mapa na cabeça, mas até eles se frustram com os imprevistos: estações fechadas, elevadores quebrados e mudanças de rotas (por vezes repentinas).
Agora, o mapinha que todo turista já teve na mão foi repaginado para a era digital, entrando nos iPhones e Galaxys do mundo pela criatividade de seis brasileiros.
O Live Subway Map, criado ao longo de um ano e meio, foi feito pela agência de design e tecnologia Work & Co, co-fundada há sete anos no Brooklyn por Felipe Memoria, Marcelo Eduardo Oliveira e três americanos.
À primeira vista pode parecer que pouco mudou, mas o site oferece ao usuário um serviço jamais visto: tecnologia que informa o que está acontecendo em tempo real, além de detalhes difíceis de imprimir em papel. A Work & Co deu o trabalho de presente para a cidade.
O nova-iorquino já se acostumou com estações fechadas, elevadores parados e desvios de rotas, especialmente à noite e nos finais de semana, tempo usado para reparação de trilhos. Inúmeros cartazes espalhados em plataformas — traduzidos para coreano, chinês, russo, espanhol e afins — indicam tais mudanças. Mas não adianta. Ninguém entende.
Ao longo dos anos, o Metropolitan Transportation Authority (a MTA, que administra o metrô) redesenhou os mapas. Em 1972, por exemplo, o italiano Massimo Vignelli criou um diagrama minimalista, mas ele tinha um problema: suas formas geométricas representavam um mapa abstrato (o Central Park era um quadrado cinza) e não informava em que rua ficava cada estação.
O problema foi repensado em 1979 por Michael Hertz, falecido este ano, que desenhou as linhas de metrô precisamente sobre o mapa de Nova York. Esta é a versão usada até hoje.
“O mapa tem de responder a duas perguntas: ‘Como vou do ponto A ao o ponto B?’ e ‘Qual a estação mais próxima ao lugar que estou buscando?,’” diz Felipe, co-fundador da Work & Co, que vive na cidade há 13 anos. “A geografia responde à segunda pergunta.”
A agência é conhecida por seu design minimalista em produtos que vão de aplicativos de celulares a plataformas de ecommerce, e uma lista de clientes que inclui Apple, Google, IKEA, Disney, Airbnb, Nike, Mercedes, ABInBev, Claro, Globo, Havaianas e Itaú.
“O pessoal do metrô bateu na nossa porta, com este projeto dos sonhos, e disse que, apesar da complexidade, o trabalho teria de ser feito de graça. Minha resposta foi imediata: ‘Vocês estão no lugar certo,’” conta Felipe.
Com 400 profissionais, a Work & Co também tem escritórios em Portland, Belgrado, Copenhagen, Rio e São Paulo. No Brasil, o trabalho é liderado pelo carioca Marcio Leibovitch.
No novo mapa do metrô, os designers casaram a geometria de Vignelli, com a precisão geográfica de Hertz, adicionando a geolocalização. Além de Felipe, participaram Karina Sirqueira e Marcela Abbade, e os programadores Pedro Putz, Maria Clara Santana e José Fernando Caneiro.
O mapa em tempo real mostra os trens em movimento, o caminho das rotas desviadas, e as diferentes entradas e saídas de cada estação, algo inédito na história dos mapas de metrô da cidade. Há filtros para o usuário buscar linhas específicas e estações com rampas e elevadores em funcionamento. E, claro, as fatídicas mudanças programadas para a noite e fim-de-semana. O site está em beta, aceitando feedback.
Ecoando Sinatra, Felipe diz: “Se a gente conseguiu resolver o problema de Nova York, podemos fazer o mesmo em qualquer outra cidade.”