O Buscapé — o primeiro dos sites comparadores de preços e um dos nomes icônicos da internet brasileira — está sendo vendido pela segunda vez.
O comprador é o Zoom, um aplicativo que ajuda o consumidor a tomar decisões de compra, oferecendo conteúdo informativo sobre os produtos à venda e serviços como histórico e alerta de preços.
Os termos da compra não estão sendo sendo divulgados — e talvez não seja à toa.
Em 2009, a Naspers pagou US$ 342 milhões por 91% do Buscapé, ou R$ 1,3 bilhão no câmbio de hoje. É improvável que o valor de venda seja sequer próximo disso.
As marcas e os sites serão mantidos separados, mas com o Buscapé, o Zoom dobra sua audiência para 30 milhões de usuários únicos/mês. Somados, Zoom e Buscapé terão mais de 2.000 lojistas clientes e devem gerar um volume geral de vendas (GMV) de R$ 5 bilhões em 2019. A monetização do negócio se dá porque os lojistas pagam uma comissão para colocar seu inventário nos sites.
A aquisição — que depende de aprovação do CADE — inclui também outras marcas do Buscapé, como os sites Bondfaro, o QueBarato e a Modait.
A transação traz outro aspecto interessante: foi estruturada como um ‘leveraged buyout’ — em que a empresa é dada como garantia — e está sendo financiada pelo BTG Pactual.
Tipicamente, empresas de tech não possuem ‘hard assets’ que possam constituir garantias numa dívida comum. Dado isto, o BTG estruturou o empréstimo como um mezanino, em que a dívida corre a CDI mais um prêmio de risco e, quando ocorrer um evento de liquidez num valuation mais alto, o banco participa do upside como se fosse um acionista.
“Se fosse fazer uma dívida simples, a taxa poderia ficar muito alta e a conta poderia não fechar para o comprador,” diz Fred Pompeu, o sócio do BTG responsável pelo Boostlab, o hub que tenta atrair negócios de tecnologia para o banco. Na transação de hoje, o BTG deve fazer o câmbio (necessário para o pagamento à Naspers). Se houver um IPO no futuro, o banco certamente será um dos coordenadores da oferta, e, se algum sócio menor estivesse saindo da empresa, o BTG tentaria levá-lo para o seu private bank.
Fundado em novembro de 2011, o Zoom era menor que o Buscapé mas tornou-se maior e mais rentável que seu precursor, lançado em 1998.
No passado, o Buscapé era uma das principais opções de investimento de marketing para o varejo online, mas hoje concorre diretamente com Google e Facebook pela verba publicitária do lojista.
Já o Zoom cresceu graças à sua execução. Desde o início, manteve um alto crivo para aceitar lojas, fazendo um monitoramento contínuo do seu nível de serviço. Depois, passou a oferecer ferramentas que informam e empoderam o consumidor. Na Black Friday, por exemplo, o Zoom monitora 16 milhões de ofertas o ano inteiro para dizer ao consumidor quais são realmente barganhas e quais são a “metade do dobro”.
Alem disso, o Zoom soube aproveitar como poucos a migração para o celular, que hoje representa já representa 80% do seu tráfego, bem acima da média do comércio eletrônico.
A negociação durou 11 meses, e o comprador conhece o ativo como ninguém.
O Zoom é uma investida da Mosaico, a boutique de investimentos em tecnologia dos sócios Guilherme Pacheco, José Guilherme Pierotti e Roberto Malta. Os três foram sócios do Bondfaro, que se fundiu com o Buscapé antes de sua venda para a Naspers. Venderam sua participação em 2009.
Entre as saídas recentes da Mosaico estão o site de metasearch de viagens Mundi, vendido para o Kayak, e a Percycle, uma empresa de publicidade nativa em sites de ecommerce e vendida para a Linx. Ambas as saídas ocorrem em 2017.
Pat Kolek, COO da Naspers, disse que a empresa sulafricana “continuará a operar e investir nos setores de classificados online, delivery de comida, pagamentos e fintech, entre outros, por meio de empresas como OLX, iFood e PayU.” A Naspers é a maior investidora da Movile, que controla o iFood.
Citigroup e Mattos Filho assessoraram a Naspers.
Lefosse Advogados assessorou a Mosaico na aquisição, e o Mattos Filho, no financiamento.
Geraldo Samor