A cada 16 segundos, uma tentativa de fraude acontece no ecommerce na América Latina — um crime que custa aos bancos e varejistas da região cerca de R$ 9 bilhões ao ano.
Dois empreendedores que trabalharam na Palantir — a enigmática empresa de big data fundada por Peter Thiel — estão tentando resolver o problema com inteligência de dados e machine learning.
A solução da Legiti tenta ir além dos programas antifraude comuns, que costumam gerar um efeito colateral: muitas vezes eles acabam barrando transações legítimas, irritando o cliente e deixando receita na mesa.
Dos R$ 9 bi que o ecommerce perde por ano com fraudes, a estimativa é que dois terços sejam o chamado ‘falso positivo’ (transações legítimas que acabam barradas) e apenas um terço seja o ‘chargeback’ (as fraudes de fato).
“A fraude é um xadrez infinito,” o fundador Pedro Sanzovo disse ao Brazil Journal. “Quando você fecha uma porta, o criminoso abre uma janela na marra. O que estamos criando é um sistema adaptativo, que identifica novos padrões fraudulentos em tempo real e responde a eles com velocidade.”
A Legiti conecta sua API no sistema dos clientes e começa a coletar todo tipo de dado sobre como cada usuário se comporta no site ou aplicativo. Depois, processa essas informações num modelo preditivo composto por mais de 3 mil ‘features’ (características relacionadas à transação).
Essas ‘features’ são aprimoradas todos os dias e respondem perguntas como: ‘quantas transações foram feitas nas últimas 24 horas?’, ou ‘qual o tempo que esse usuário passou em cada página antes de fechar a transação?’ Ou ainda: ‘qual a distância entre o endereço de entrega do produto e a localização do IP no momento da compra?’
“Se um cliente normalmente se comporta de uma forma, mas agora está agindo muito fora desse padrão, o algoritmo vai alertar que tem alguma coisa de errado,” diz o californiano Pearson Henri, o outro fundador.
Pedro e Pearson se conheceram no primeiro dia de aula no dormitório de Stanford — o primeiro estudava computação; o segundo, symbolic systems (o mesmo curso que formou os fundadores do Instagram). Depois da graduação, ambos foram trabalhar em diferentes áreas da Palantir, onde ficaram três anos.
Agora, a Legiti acaba de levantar US$ 2,5 milhões (R$ 15 mi ao câmbio de hoje) numa rodada de seed capital para aprimorar a tecnologia e contratar engenheiros e cientistas de dados. A rodada foi liderada pela Kaszek Ventures e teve a participação da Global Founders Capital, Iporanga Ventures e Norte Ventures.
Por enquanto, a Legiti atende majoritariamente empresas de delivery, como Zee.Now e Shipp, que pagam um fee mensal por cada transação analisada. O plano é nos próximos meses começar a atender também marketplaces e ecommerces tradicionais.
Para a Zee.Now, o ecommerce de produtos pet, a Legiti conseguiu reduzir em 64% o ‘chargeback’ e, ao reduzir as fricções do processo, aumentou a conversão de vendas em 1,34 ponto percentual.