Na lista dos IPOs de tecnologia deste ano, a Palantir é o unicórnio mais intrigante – e controverso.
A empresa – que minera e analisa Big Data – se destaca pela natureza de seus maiores clientes – o Exército americano, a CIA e o Pentágono – e também por seu fundador, Peter Thiel, um dos maiores (e igualmente controversos) nomes do venture capital.
Famosa por ter desenvolvido a inteligência que levou o governo americano a capturar Osama bin Laden, a Palantir escreve programas capazes de rastrear, processar e analisar um volume massivo de dados das mais diversas fontes: e-mails, redes sociais, documentos financeiros, reservas de bilhete de avião, GPS de celular – nada escapa ao escrutínio dos algoritmos da Palantir.
Estima-se que a inteligência desenvolvida pela Palantir seja capaz de rastrear o comportamento de mais da metade da população adulta dos EUA. Ela consegue não só solucionar crimes e fraudes como também medir a probabilidade de alguém cometer um crime – o que ajuda em tempos de terrorismo, mas abre brecha para questionamentos sobre violação de privacidade e de direitos civis.
O trabalho da Palantir tem um escopo global: documentos vazados por Edward Snowden revelam que a Palantir teria colaborado para a expansão da rede de espionagem global da NSA.
O nome da empresa vem da trilogia ‘Senhor dos Anéis’: Palantir é a pedra mágica que permite ver o que está acontecendo em qualquer parte do mundo.
Mas se a pedra mágica sabe tudo sobre todos, informações financeiras e sobre o modus operandi da Palantir sempre foram escassas.
Nem mesmo seus investidores têm muito acesso. Marc Abramowitz, que aportou US$ 100 mil em seed money – fatia que hoje vale mais de US$ 60 milhões – precisou recorrer à Justiça para ter acesso aos balanços.
Em seus 15 anos em operação, a Palantir levantou US$ 2 bilhões em 22 rodadas.
Por anos, a Palantir descartou a ideia de se tornar uma empresa listada, temendo que as demandas de transparência trouxessem dificuldades para a gestão.
Mas na medida em que o IPO vai se aproximando, alguns dados começaram a vazar da Matrix: recentemente, o WSJ revelou que a empresa faturou US$ 880 milhões em 2018, contra US$ 600 milhões no ano anterior.
A Palantir nasceu com seed money da CIA e a missão de auxiliar os EUA com inteligência digital na guerra ao terror depois do 11 de setembro. Seus co-fundadores são um time egresso do PayPal e de Stanford (Thiel é o chairman).
Thiel também fundou o Paypal e foi um dos primeiros investidores do Facebook, onde ocupa um assento no board. (No escândalo da Cambridge Analytica, a Palantir foi acusada de ter auxiliado a consultoria britânica a interpretar os dados vazados de 50 milhões de usuários da rede social.)
Thiel é um dos poucos amigos do Presidente Trump no Vale do Silício: apoiou pública e financeiramente a candidatura do Republicano. Já o co-fundador e CEO da Palantir, Alex Karp, é um autoproclamado “socialista”. (Durma-se com um barulho desses.) Os outros co-fundadores são Stephen Cohen, Nathan Gettings e Joe Lonsdale.
Os contratos na área militar são o core business da Palantir. Recentemente, ela venceu mais um, no valor de US$ 800 milhões, com o Exército dos Estados Unidos.
A empresa também tem contratos com órgãos civis do governo: seus programas ajudam a identificar fraudes no Medicare e dão suporte a investigações policiais em alguns estados.
O JP Morgan foi o primeiro cliente privado: contratou a Palantir para prevenir o vazamento de informações do banco. Mais tarde, a coisa terminou em escândalo quando Jamie Dimon descobriu que até a alta cúpula do banco estava sendo espionada.
Na foto acima, uma cena do filme ‘1984’, sobre o clássico de George Orwell.