A matéria do Financial Times era de ontem, mas a repercussão só veio hoje, talvez pelo suposto uso inadmissível da famosa palavrinha interditada: ‘reforma’.
Com a repercussão, veio a nota abaixo, que o Ministério da Fazenda publicou agora há pouco.
Todo mundo sabia que a vida de um economista ortodoxo num regime de inspiração keynesiana nunca ia ser fácil.
Mas quando a Fazenda se sente compelida a gastar tempo precioso para diferenciar ‘reforma’ de ‘ajustes específicos’, ou ‘recessão’ de ‘contração’, como aconteceu há apenas 24 horas, ou, ainda, para esclarecer as sutilezas de uma frase do ministro sobre a possibilidade de racionamento, objeto da terceira nota à imprensa em dois dias, os que torcem pela correção de rumo da economia são lembrados do quão venenoso vai ser o caminho entre o ponto A e o ponto B — ou, se tudo der errado, entre o grau de investimento e o downgrade.
Aparentemente, o ministro tem ampla liberdade de ação, mas pouca liberdade de expressão. Neste caso, Je suis Levy.
Carlos Drummond de Andrade escreveu: “Lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe a manhã.” Em Brasília, a poesia é atual.
Infelizmente, a luta com as palavras, que refina a poesia até o estado da arte, é inglória e inútil quando se trata de conciliar o discurso e a prática de um Governo que se comprometeu com um projeto e se vê obrigado, para sua própria sobrevivência, a executar outro.
Vai ser inevitável pisar nos ovos semânticos mas, sem eles, não se fará omelete, assim como não existe almoço grátis.
NOTA À IMPRENSA
Sobre a reportagem publicada hoje no jornal Financial Times sob o título “Brazil´s Finance Minister Signals Austerity”, o Ministério da Fazenda vem prestar os seguintes esclarecimentos:
1) Não está correta a afirmação de que o ministro tenha dito a frase “Brazil is in for a period of austerity and supply-side reform, INCLUDING THE POTENTIAL CONTROVERSIAL OVERHAUL OF SOCIAL WELFARE PROGRAMMES”;
2) A frase é de autoria do jornalista e traz uma afirmação incorreta de que o governo brasileiro estaria promovendo uma reforma controversa de programas sociais;
3) Na entrevista concedida o ministro disse textualmente:
“FT: Are there other areas that you have in mind where cuts may have to come?
JL: Well, we have to cut in several areas, we want to preserve social programmes. We are acting in very specific things that we believe are actually weakening some programmes. I was discussing with a collegue: they made a quite important structural change, for instance, in the case of pensions. We are adjusting some regulations in pensions. For example, the widows, in Brazil, they get…
FT: Oh, I know, the widows get the pension for some time…
JL: So, we are doing that. The labour market, we saw, it was a conundrum. We had the lowest unemployment rate in History and we kept seeing the unemployment benefits growing. But it was not because of fraud. It was because the design was completely out of date. So we had to ajdust that so that we ensure, when the need comes, people will have.
4) Como se pode ver, em momento algum o ministro usou a palavra “overhaul” (reforma). O que ele disse é que ajustes específicos estão sendo feitos. A reportagem também não traz a frase “queremos preservar os programas sociais”;
5) O ministro esclarece ainda que a sua observação sobre a legislação do seguro-desemprego teve como objetivo ampliar o debate pela modernização das regras desse benefício diante das transformações do mercado trabalho nos últimos 12 anos.
6) A íntegra da entrevista está disponível no site www.fazenda.gov.br.
Assessoria de Comunicação
Ministério da Fazenda