Num dia que amedrontou os bravos e humilhou os poderosos, o stress nos ativos financeiros brasileiros colocou o foco do mercado num dos gestores de investimentos mais celebrados do momento: Márcio Appel.
Desde que começou a aceitar dinheiro de clientes em abril do ano passado, sua gestora, a Adam Capital, se transformou num fenômeno de performance e captação, com R$ 11 bilhões de ativos sob gestão em seus fundos multimercados, dois dos quais já estão fechados para captação. Também conhecidos como fundos macro, os multimercados operam juros, Bolsa e câmbio.
Engenheiro formado pelo ITA, Appel passou pelo antigo Banco Bozano Simonsen, mas fez sua fama no Safra como gestor do Galileo, um dos fundos multimercados mais vencedores do mercado brasileiro. Em cinco dos sete anos em que esteve sob o comando de Appel, o Galileo teve retornos superiores a 150% do CDI. O fundo nunca teve um ano abaixo do CDI.
Esse histórico permitiu que, ao sair do Safra, Appel levasse junto uma horda de investidores, e a Adam logo se tornou uma febre entre os distribuidores de fundos.
No mercado estima-se que, no primeiro ano da gestora, Appel e seu sócio André Salgado – ex-diretor das corretores do Safra e do Santander — embolsaram mais de R$ 150 milhões em taxas de administração e performance.
Agora, pela primeira vez eles têm que lidar com um cisne negro que amassou o valor das empresas brasileiras e fez o dólar ter a maior alta em 14 anos.
A Adam tem dois produtos principais. Cerca de 90% do patrimônio da casa estão no Adam Macro, menos arriscado. Os outros 10% estão no Adam Advanced, que usa as mesmas estratégias do Macro mas com alavancagem maior.
O Advanced tem uma volatilidade anualizada de 20%, o que significa que, numa situação de stress, sua cota pode variar em 20%, para cima ou para baixo.
A Adam entrou no turbilhão de hoje comprada no bom e velho ‘kit Brasil’ (ah, que saudade..), apostando na queda dos juros, na valorização do real e alta da Bovespa. Um dos investimentos que melhor expressa esse ponto de vista é a NTN-B com vencimento em 2050. Na medida em que a inflação e os juros caem, a NTN-B se valoriza.
Mas nesta quinta-feira, o ‘kit Brasil’ se tornou tóxico, e derreteu ainda mais depois que o Presidente Temer prometeu ficar e lutar pelo mandato que lhe resta.
À medida em que os acontecimentos do dia mesmerizavam o País, a NTN-B derretia. Ontem, o papel rendia IPCA mais 5%; no fechamento de hoje, foi marcada a 5,96%. Considerando o ‘duration’ longo do título (cerca de 16 anos), isto equivale a uma queda no preço do papel de aproximadamente 16%.
Dado o perfil que a Adam adquiriu nos últimos meses e o uso de alavancagem em seu portfólio, a cota de hoje dos fundos da gestora foi um dos assuntos do dia nos círculos da Faria Lima e do Leblon. Pessoas próximas à casa estimam que o Macro deve publicar uma cota negativa de 5%-6% para hoje, enquanto o Advanced perderá de 15% a 20%, em linha com seu perfil de risco.
Como a NTN-B já foi uma grande aposta de Appel, o mercado especula que ele terá problemas para zerar a posição, ainda mais num momento em que a porta de saída é inconvenientemente estreita. Mas segundo uma pessoa próxima a Appel, ainda que a gestora esteja na ponta errada do Brasil D.J. (depois de Joesley), suas posições estão bastante diversificadas.
No Adam Macro, o retorno acumulado de 12 meses até abril era de 27,9%, contra 13,4% do Ibovespa. No Adam Advanced, o ganho era de impressionantes 55% nos últimos 12 meses. No ano, o fundo sobe 25%.
O sucesso colhido até agora foi tanto que a Adam recentemente lançou um novo fundo, o Adam Macro Strategy, que terá uma alocação maior em ações no exterior e não investirá em juros no Brasil. A captação começaria no fim de junho.