Ainda é cedo para saber o tamanho da bagunça que será causada na economia brasileira pela crise global que se avoluma — com a inestimável contribuição de Brasília.
O que se sabe desde já é que esta quarta-feira de pânico deixou mortos e feridos entre investidores institucionais que deveriam estar acostumados com a volatilidade, mas, talvez o mais grave, causou dano profundo na psicologia do pequeno investidor que descobriu a Bolsa recentemente em busca de mais retornos.
Ao longo do dia, com a explosão da volatilidade, a área de risco da XP aumentou a margem de garantia para operar mini contratos de Ibovespa de R$ 25 para R$ 150 e em seguida para R$ 2 mil/contrato, abreviando a aventura de riqueza rápida de milhares de especuladores. Clientes que não tinham saldo para cobrir a margem eram ‘zerados’ automaticamente.
Enquanto isso, em Brasília…. O Congresso mandava um recado ao ocupante do Executivo: a derrota de um veto presidencial que custará mais R$ 20 bilhões por ano aos cofres públicos. A leitura política é inevitável: um Governo que tem como agenda aprovar diversas PECs essenciais sequer tem os votos para manter um veto presidencial.
No segmento BM&F da B3, a notícia vinda de Brasilia fez o índice futuro encostar no limite de baixa do seu chamado ’túnel de proteção’ — uma queda de 12,5%. O índice chegou a se recuperar um pouco mas entregou tudo no final e fechou na mínima.
Moral da história: nem tudo nesta crise é global. As condições políticas locais, que poderiam amortecer nossa queda, a estão acelerando.
O risco embutido no sistema financeiro global não pode ser subestimado.
Sem uma liderança internacional que coordene a resposta global ao coronavírus — um papel historicamente desempenhado pelos EUA — a resposta de várias jurisdições mais parece um manual de suicídio econômico.
Se ‘a vida como ela é’ for substituída por ruas vazias e restaurantes às moscas, realmente é provável que muita gente sobreviva ao coronavírus, mas muitos mais morrerão vítimas da violência urbana, da fome e do desemprego (só não serão contabilizados nas manchetes). É óbvio que o mundo tem que se prevenir e lavar frequentemente as mãos, mas a vida não pode parar.
Pelo que se sabe até agora, o vírus é mais contagioso do que a gripe comum, mas sua letalidade está mais concentrada nos mais velhos. Será mesmo o caso de se parar um país inteiro para desacelerar um vírus que ao final quase todos contrairemos? Alguém fez a conta do custo-benefício para a sociedade?
No Brasil, se as autoridades seguirem o mesmo caminho da Itália, o tranco financeiro dos últimas dias provavelmente será fichinha quando comparado ao dano econômico, de duração muito mais longa e consequências imprevisíveis. Como disse Franklin Roosevelt em seu discurso de posse, “The only thing we have to fear is fear itself.”
Como sempre acontece no livro-texto do Brasil, o momento atual exigirá que cessem as molecagens da política e todos vistam as calças de adultos. Jair Bolsonaro terá que parar de brincar de candidato eterno à Presidência e assumir, se for capaz, a liderança do País, até agora fatiada entre os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo.
Já o Congresso — que tem tentado ensinar ao chefe do Executivo seu devido lugar na divisão dos Poderes — terá que parar de flexionar seu músculo apenas para demonstrações de força política e colocá-lo a serviço de uma agenda de votações que restaure um mínimo de confiança em meio a um mundo caótico.
O copo meio cheio é o de sempre, no País que nunca muda: o Brasil sempre precisa de uma crise para levantar do traseiro e fazer o que precisa.
Agora, essa crise chegou.
Feliz sexta-feira 13.
Boa sorte, Brasil.