O mais aclamado gestor de ações do Brasil anunciou que vai devolver aos clientes cerca de um terço dos recursos que administra, um caso inédito no Brasil de um gestor com um tamanho relevante e que decide voluntariamente gerir um patrimônio menor.

Luis Stuhlberger e sua equipe administram hoje cerca de R$ 30 bilhões entre vários fundos de investimento, sendo R$ 14 bilhões no chamado Verde Master, cujo tamanho será reduzido. A devolução será feita em quatro parcelas semestrais, sendo cada uma de 10% do valor sob gestão à época, com a primeira parcela em janeiro de 2015. Isso significa que cerca de R$ 4,76 bilhões devem ser devolvidos aos clientes, que terão de encontrar novas alternativas onde aplicar.

Três de cada quatro grandes empresários brasileiros são clientes do Fundo Verde, que Stuhlberger administra na Credit Suisse Hedging-Griffo. Desde seu início em janeiro de 1997, o Verde, que aposta em ações, moedas e juros, rendeu mais de 8.400%, ou o equivalente a 1.195% do CDI no período.

A decisão de Stuhlberger mostra os desafios de se encontrar boas ideias de investimento num mercado acionário relativamente pequeno como o do Brasil, onde as ações de apenas 155 empresas negociam mais de R$1 milhão por dia, cada uma, e só 87 negociam mais de R$ 10 milhões. Historicamente, o Verde investe de 40% a 50% de seu patrimônio em ações, mas tem tido uma exposição menor nos últimos anos em meio às incertezas do cenário macro.

A dieta voluntária também mostra a dificuldade dos gestores de manter uma performance acima do mercado quando um fundo se torna muito grande. Dado o tamanho elefantino do Verde, sua entrada nas ações de uma empresa pode, por si só, fazer subir o preço de mercado, e sua saída pode gerar o efeito contrário. As movimentações nos mercados de DI e dólar também se tornam mais custosas na medida em que o gestor tem que “pagar para cima” para comprar a quantidade que precisa.

Finalmente, os outros gestores profissionais estão esfregando as mãos: quando os clientes de Stuhlberger se virem com o dinheiro devolvido na conta, vão procurar outros gestores nos quais investir. Tem muito Taittinger e Veuve Clicquot sendo estourado agora de manhã.

A indústria de fundos cobra dos clientes uma taxa de administração que, na maioria dos fundos de ações, por exemplo, é de 2% ao ano. Quanto maior o volume administrado, maior a receita recorrente dos gestores. Há ainda, a taxa de performance, que dá ao gestor um pedaço dos resultados que ele consegue para seus clientes. Em anos em que os fundos vão bem, os gestores levam bastante dinheiro pra casa.

A decisão de Stuhlberger de cortar o tamanho do Verde é parte de seu acordo com o Credit Suisse pelo qual, a partir de janeiro de 2015, os dois lançarão uma nova gestora, a Verde Asset Management, da qual Stuhlberger será o controlador enquanto o CS e a equipe de Stuhlberger serão acionistas minoritários.