Vão cutucar a coruja.
A SET Investimentos, que administra cerca de R$200 milhões em ações, mandou uma carta ao conselho de administração da Eternit pedindo a demissão da diretoria da empresa e um profundo corte de custos. A gestora acredita que estes movimentos podem dobrar o preço das ações da empresa que se autodenomina “a marca da coruja”.
Cotadas a R$8,40, as ações da Eternit (ETER3) negociam a cerca de 7 vezes o lucro estimado para este ano, um múltiplo que a SET considera baixo. O preço reflete uma Eternit que está perdendo gás: seu retorno sobre o patrimônio líquido caiu de 36% em 2008 para 21% ano passado.
Um grande problema são as despesas. A Eternit gasta quase o mesmo que a Duratex em despesas gerais e administrativas, mas é apenas um quarto do tamanho da concorrente. Além disso, a despesa cresce mais do que a receita e do lucro por ação há pelo menos cinco anos.
A SET também reclama na carta que, enquanto os retornos da empresa pioram, a remuneração da diretoria mais do que dobrou, de R$6,4 milhões em 2008 para R$15,4 milhões ano passado.
“Se as despesas fossem cortadas pela metade, ainda assim a Eternit teria um índice de despesas sobre receita consideravelmente superior ao das demais empresas do segmento e o seu lucro poderia aumentar em cerca de 40%”, diz a carta da SET, assinada por Tiago Guitián dos Reis, um dos sócios da gestora.
“Mudanças na gestão da empresa são necessárias e inevitáveis”, diz Reis na carta. “A discussão é se os acionistas querem fazer uma mudança sem traumas hoje ou sob pressão no futuro. Não será a mesma diretoria que criou os problemas que irá conseguir resolvê-Ios”.
A vaca sagrada da Eternit são seus dividendos. Há anos a compahia os paga com a regularidade de um relógio suíço: 80 centavos por ano, 20 centavos por trimestre. Isso funcionou bem por muito tempo: havia caixa suficiente para pagar dividendos e ainda fazer os investimentos necessários.
Mas de uns tempos pra cá, a Eternit pisou fundo nos investimentos, e o cobertor está ficando curto. Para manter os dividendos intocados, a Eternit vem aumentando seu endividamento, o que não é sustentável no longo prazo.
Ao longo dos anos, a política de dividendos da Eternit fidelizou muitas pessoas físicas, que se tornaram acionistas atraídos pelo retorno de 10% ao ano. (Quem comprou o papel durante crises conseguiu travar retornos anuais de até 15%.) A carta não deixa claro se a SET vai buscar os votos destes pequenos acionistas, mas, segundo uma pessoa próxima das conversas, alguns grandes acionistas estariam inclinados a considerar mudanças na empresa.
O capital da Eternit é pulverizado. Mais de 55% do capital da empresa estão nas mãos de acionistas com participações menores que 1%. Seus três maiores acionistas são pessoas físicas que fizeram seus patrimônios na Bolsa. Luiz Barsi Filho, Lírio Parisotto e Victor Adler têm, juntos, cerca de 40% do capital.