A Bradesco Asset Management (BRAM) já deu ao Brasil o ministro da Fazenda.
Agora, também tem sugestões de nomes para a Petrobras.
A indicação, por parte da gestora de recursos do Bradesco, de dois nomes para representar os acionistas minoritários no conselho na Petrobrás — Eduardo Gentil e Otávio Yazbek — foi vista no mercado como uma tentativa de colocar na estatal nomes que darão menos dor de cabeça ao Governo.
As indicações surpreenderam os minoritários envolvidos em buscar uma representação mais efetiva na Petrobras, e que semana passada já haviam indicado os nomes de Guilherme Affonso Ferreira e Walter Mendes para o conselho.
No mercado, ninguém entendeu porque o Bradesco decidiu não participar das articulações de montagem da chapa, que envolveram dezenas de gestoras nacionais e estrangeiras, todas acionistas da Petrobrás. A BRAM disse que ‘exerceu seu direito’ de indicar os outros nomes ‘por considerar importante para o processo de governança da empresa.’
Os dois nomes indicados pela BRAM são respeitados no mercado, mas não são tidos como combativos o suficiente para questionar uma empresa que, à mercê do controlador, destruiu bilhões de reais de valor para seus acionistas.
Gentil, um nome conhecido no mercado financeiro, é sócio da consultoria Cambridge Family Enterprise Group e já passou pelo Itaú BBA, Credit Suisse e Goldman Sachs, onde foi diretor geral entre 1994 e 2002. Também foi presidente da Visa do Brasil entre 2004 e 2007. Hoje, é membro dos conselhos de administração da Ecorodovias e do grupo de mídia RBS.
“O Gentil é um diplomata, não é um cara que vai brigar como o Guilherme Affonso Ferreira,” diz um empresário que conhece bem ambos.
Já Yazbek, um renomado advogado especializado em direito societário, teve uma recente associação com o Governo: foi diretor da Comissão de Valores Mobiliários (de 2009 a 2013).
“Os associados da AMEC fizeram diversas reuniões para discutir nomes, fizeram conferências por telefone com investidores estrangeiros que estão engajados há anos na Petrobrás e que têm uma postura ativista,” diz uma pessoa envolvida no processo para encontrar os nomes.
A BRAM também é associada da AMEC, e seu diretor de renda variável, Herculano Alves, é conselheiro da entidade.
Apesar disto, a BRAM nunca circulou os nomes de Yazbek e Gentil durante as conversas.
“Se o Bradesco acredita que estes nomes são bons, deveria tê-los indicado durante as discussões, até para comparar com os outros e até para compor uma chapa,” diz um gestor envolvido nas articulações. “Quando você faz uma segunda chapa, isso divide e não contribui para a união que é desejada nesse momento em que a gestão do Estado está gerando problemas para os acionistas minoritários.”
O mercado especula que o elo comum entre a Petrobras, o Bradesco e os dois indicados seja Murilo Ferreira, CEO da Vale, futuro presidente do conselho da petroleira, homem de confiança de Dilma Rousseff e a quem foi delegada a tarefa de compor o conselho e diretoria.
Não é a primeira vez que a BRAM decide não apoiar uma chapa percebida como de consenso entre os minoritários da Petrobras. Em 2014, a gestora indicou o empresário Jorge Gerdau Johannpeter e Mauro Cunha, da AMEC. (Na ocasião, a AMEC havia indicado Cunha e José Monforte para os dois assentos dos minoritários.)
O interesse da BRAM em indicar nomes para a Petrobras também chama atenção porque, apesar de ser uma das duas maiores gestoras do País (e portanto com participação em dezenas de empresas), a BRAM não costuma ter uma postura ativista.
“Seria muito bom que os minoritários estivessem juntos nessa porque, mesmo assim, é improvável que os conselheiros independentes consigam fazer mudanças de fato na Petrobrás: eles são apenas dois num conselho de nove,” diz outro gestor. “O máximo que eles podem fazer é constranger o controlador na hora de fazer bobagens.”