O mercado ficou conhecendo ontem os dois nomes indicados para representar os acionistas minoritários no conselho de administração da Petrobrás.
Guilherme Affonso Ferreira e Walter Mendes devem substituir, respectivamente, José Monforte e Mauro Cunha, que anunciaram que vão deixar o conselho no fim deste mês.
Ser conselheiro da Petrobras, outrora uma posição de status, hoje é uma tarefa ingrata. Além de estar no olho do furacão da Lava Jato, a empresa é alvo de uma série de processos judiciais, os conselheiros têm que ler muito para se informar sobre uma empresa que é gigantesca, e, frequentemente, são forçados a bater de frente com o Governo para proteger os minoritários do acionista controlador.
Mas tanto Ferreira quanto Mendes parecem ter sido talhados para o cargo: ambos têm uma trajetória associada ao mercado de capitais e à defesa de boas práticas de governança corporativa.
Ferreira, indicado ao conselho pela GTI para representar os detentores de ações PN, se tornou um dos mais conhecidos gestores do Brasil com a Bahema Participações. Originalmente uma empresa de comercialização de implementos agrícolas fundada pelo pai de Ferreira, Afranio Affonso, em 1953, a Bahema se transformou numa companhia de investimentos que acumulou e manteve durante décadas uma participação relevante no antigo Unibanco e, posteriormente, no Itaú Unibanco.
Sua filosofia de investimento — o ‘value investing’ — consistia em adquirir posições minoritárias em boas empresas que estivessem mal avaliadas pelo mercado, com Ferreira frequentemente participando dos conselhos de administração e fiscal das empresas, ou se associando a outros minoritários para defender mudanças.
Em 2009/2010, a Bahema distribuiu suas ações do Itaú para seus acionistas e diminuiu de tamanho. Hoje, Ferreira concentra seus investimentos na Teorema Gestão de Ativos, onde gere um fundo de ações brasileiras e outro que aplica em empresas globais.
Ferreira hoje é conselheiro das seguintes empresas: Arezzo, Sul América, Gafisa, Valid e T4F Entretenimento.
Walter Mendes — indicado pelo acionista pessoa física (e membro do conselho fiscal) Reginaldo Ferreira Alexandre para representar os minoritários detentores de ações ON — tem traquejo em associações de classe e um perfil mais político. É tido como um executivo técnico, sério e discreto.
Desde setembro, é diretor executivo da Associação dos Apoiadores do Comitê de Aquisições e Fusões (ACAF), uma associação civil sem fins lucrativos que administra um comitê responsável por julgar conflitos societários.
Mendes também já foi presidente da AMEC, a Associação de Investidores no Mercado de Capitais, uma entidade que tem um histórico de defender os interesses de acionistas minoritários em disputas com os controladores.
Ele trabalha no mercado de capitais desde 1978. Foi superintendente de renda variável do Unibanco por sete anos e, mais tarde, diretor de investimentos na América Latina da Schroders, uma gestora inglesa.
A assembleia de acionistas que elegerá os novos conselheiros acontece dia 29.
“Ser conselheiro da Petrobras é uma carga pesada, é uma responsabilidade muito grande, e isso é desgastante,” diz André Gordon, da gestora GTI, que é acionista da Petrobras e indicou Ferreira. “Esses dois nomes dão continuidade à independência que o Mauro e o Monforte trouxeram. Foi com eles que os conselheiros independentes, que antes eram muito próximos ao Governo, passaram a representar o mercado de fato.”