Quase dez anos depois da então pouco conhecida 3G Capital comprar uma briga homérica para mudar a gestão da CSX, a segunda maior ferrovias dos Estados Unidos é alvo de uma nova tentativa de tomada de controle.
Desta vez, o maquinista da operação é Paul Hilal, que era sócio de Bill Ackman na Pershing Square e ano passado montou sua própria firma, a Mantle Ride. Hilal levantou um fundo de US$ 1 bilhão para um único investimento, e os investidores se comprometeram a manter o dinheiro lá por cinco anos, segundo o The Wall Street Journal.

Ontem à noite, apareceu a locomotiva:  o CEO da concorrente Canadian Pacific Railway, Hunter Harrison, pediu demissão do cargo cinco meses antes do fim de seu mandato e disse que está se associando a Hilal para ‘olhar algumas oportunidades’.

Eles já são conhecidos de longa data. Harrison, um veterano do setor venerado pelos investidores, assumiu a Canadian Pacific em 2012, indicado pela Pershing Square, que construiu uma posição grande no papel e conseguiu o apoio de outros acionistas para ejetar o antigo CEO e instalar Harrison.  Hilal, que trabalhava na Pershing Square, foi quem contratou Harrison na época. 

 
A CSX — cuja malha chega a 23 Estados americanos e duas províncias do Canadá — atende quase dois terços da população americana. Em 2016, faturou US$ 11 bilhões e teve lucro de US$ 1,7 bilhão.
 
A empreitada de Hilal e Harrison na CSX lembra a tentativa feita pela 3G de influenciar os rumos da empresa — com a exceção de que os americanos parecem muito mais bem posicionados. A ferrovia americana foi o primeiro movimento internacional da firma de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.  (A única experiência do trio com ferrovias havia sido o investimento da GP na ALL, que mais tarde se tornou um mega sorvedouro de caixa, muito diferente do sucesso que a 3G obteve em seus outros negócios.)
 
No fim de 2007, quando ainda era praticamente desconhecida nos Estados Unidos, a 3G se uniu ao The Children’s Investment Fund (TCI), uma gestora inglesa, e juntas compraram 9% das ações da CSX, bem como derivativos que lhes davam direito a mais 11% da empresa. Com 20% do capital na mão, tentaram indicaram cinco de 12 conselheiros.
A batalha foi sangrenta e terminou nos tribunais. A CSX acusou os dois investidores de usarem os derivativos para esconder sua posição efetiva e preparar o ataque.

A confusão levou a um novo entendimento sobre o uso desses instrumentos, mas a TCI e a CSX conseguiram manter sua participação e eleger quatro dos cinco conselheiros indicados – entre eles, Alexandre Behring, o ex-CEO da ALL que hoje comanda a 3G.  Logo em seguida à ‘vitória’ da TCI/3G, a crise de 2008 fez a CSX perder metade de seu valor de mercado. A TCI jogou a toalha e vendeu sua participação em 2009, enquanto a CSX perdeu relevância no portfólio do 3G.

Agora, Hilal aposta em Harrison para imprimir à CSX a mesma eficiência que ele levou para a Canadian Pacific, onde reduziu a relação entre custos operacionais e receita de 81% para 59% em cinco anos. Na CSX, o índice está em 69%.

 
Harrison trabalha em ferrovias desde os 20 anos de idade, quando ainda fazia faculdade. Seu primeiro emprego foi trocar o óleo de vagões. Segundo o Journal, durante sua gestão na Canadian, Harrison mandou instalar monitores em suas várias casas para acompanhar em tempo real as chegadas e partidas das composições; não raro, quando os trens atrasam, ele liga diretamente para o engenheiro encarregado pedindo explicações. Ele tem 72 anos.

O mercado aposta também numa fusão entre as duas empresas. A Canadian Pacific já fez duas tentativas de fusão com a CSX, em outubro de 2014 e no ano passado, sem sucesso. O segmento de ferrovias nos Estados Unidos passa por um momento difícil, com a queda nos preços das commodities e a redução no volume de carvão movimentado.