Uma nova corretora chegou ao mercado mirando um nicho que julga ainda pouco explorado por XP e similares: os milhões de brasileiros que não tem cacife para serem atendidos de forma personalizada por assessores de investimento.
Fundada por cinco graduandos do Ibmec de Belo Horizonte, a Toro Investimentos quer escalar um modelo de assessoria financeira baseado em vídeos educativos e numa tecnologia mais amigável para quem não tem um agente autônomo para chamar de seu (tipicamente, pessoas com menos de R$ 300 mil para investir.)
A proposta de monetização? ‘Win-win’. Se seguir as recomendações da casa, o cliente só paga corretagem se tiver lucro. A Toro fica com 10% do ganho de cada operação.
“Os supermercados financeiros trouxeram uma liberdade de investimento que não existia nos bancos, mas com essa liberdade veio muita complexidade,” diz Gabriel Kallas, um dos sócios-fundadores. “A XP tem um modelo simples e muito bem sucedido, que é o modelo do assessor, que supera essa barreira da complexidade com educação, com a conversa cara a cara, por telefone, tomando cafezinho.”
O problema, diz ele, é que ainda há um exército de potenciais investidores que não contam com a ajuda do assessor. Um levantamento feito pela Toro cruzando dados da Receita Federal e da Anbima mostra que cerca de 70% da poupança brasileira está nas mãos de pessoas com menos de R$ 140 mil para investir.
Assim como a XP, a Toro também nasceu como uma plataforma de educação financeira – neste caso, online. Desde 2010, o Toro Radar oferece cursos e relatórios sobre Bolsa, do básico a operações mais sofisticadas, cobrando uma mensalidade. Ao todo, mais de um 1 milhão de pessoas já se cadastraram na plataforma.
Dois anos depois, o Toro Radar começou a oferecer corretagem, mas as ordens passavam pela XP, que se apropriava da maior parte do economics. Foi quando os sócios da Toro perceberam que estavam deixando dinheiro na mesa – e que muitos investidores menos sofisticados simplesmente não entendiam direito como mexer num homebroker.
Em vez de comprar uma corretora já existente, decidiram abrir uma do zero. Um aporte de R$ 66 milhões, liderado por três fundadores da Localiza – Eugênio Mattar e os irmãos Flávio e Antônio Cláudio Brandão Resende – financiou a empreitada. Os investidores ficaram com um terço da companhia. (A Araújo Fontes, boutique de M&A que assessorou a Toro na captação, também entrou como sócia, assim como Fernando Sette, do Azevedo Sette, que assessorou os investidores).
A Toro Investimentos vem operando em soft launch desde julho. Sua campanha na TV promete: “Mais rentável que os bancos, mais fácil que as corretoras”.
Seu desafio é claro: num mercado em que todos querem ser XP — e em que até o BTG Pactual comprou uma empresa de assessores autônomos — até que ponto a tecnologia, por mais intuitiva que seja, pode escalar o negócio?
Na prática, a Toro traz várias pequenas inovações que facilitam a vida do usuário.
No homebroker, em vez de ‘alavancagem’, stops e outros jargões das mesas de operações, o site da Toro pergunta ao investidor apenas quanto ele quer ganhar e quanto aceita perder em cada transação. O sistema calcula o resto.
Na renda fixa, CDBs, LCIs, LCAs e outros títulos são disponibilizados numa ferramenta semelhante aos sites que buscam hotéis e passagens áreas, permitindo comparar taxas, tributações e rentabilidades para cada perfil de cliente, que são visualizados simultaneamente. Parte da receita vem do fee que a Toro ganha das instituições por oferecer seus produtos. (Segundo Kallas, sem o agente autônomo no meio, a Toro consegue cobrar taxas menores).
A plataforma conta ainda com um marketplace inédito de títulos de renda fixa para quem precisa sair do papel antes do vencimento. Nas grandes corretoras, isso é feito contra a mesa de operação, usando o dinheiro da tesouraria. Na Toro, será uma transação peer-to-peer, em que um cliente dá liquidez ao outro. A corretora fica com um fee por transação.
Do lado educacional os clientes têm acesso a cerca de 150 vídeos, nos quais os próprio Kallas conduz a experiência. Um algoritmo indica os melhores produtos de acordo com o perfil. Por enquanto, a plataforma ainda não oferece fundos de investimento.
Em parte, a Toro se inspira no modelo da RobinHood, a corretora americana fundada há apenas cinco anos e que já vale US$ 5,6 bilhões. A RobinHood viralizou ao oferecer negociação de ações em bolsa de graça, num aplicativo intuitivo que atraiu investidores mais jovens e sensíveis a preço. Saiu de 2 milhões para 4 milhões de contas neste ano.
No Brasil, a popularização da Bolsa ainda tem chão. De acordo com dados da B3, hoje apenas 740 mil CPFs estão cadastrados para investir em ações.
O importante é crescer o bolo – e deixar a concorrência dividir.