Mesmo com a vasta maioria de suas lojas fechadas, a Via Varejo está conseguindo fazer 70% de seu faturamento pré-lockdown de maneira consistente, e em pelo menos dois dias chegou a atingir 80%, o CEO Roberto Fulcherberguer disse ao Brazil Journal.
O número — que inclui o faturamento de quase 20% das lojas, já reabertas — se deve principalmente ao avanço das vendas online, que representavam 30% do total antes da pandemia e agora perfazem cerca de 65%. (Outros 5% estão vindo das lojas abertas).
Quando o lockdown chegou, da noite para o dia a Via Varejo se viu com 20 mil vendedores em casa.
Usando agressivamente seu CRM, a companhia começou a enviar ofertas baseadas no histórico de compras do cliente e pesquisas que ele faz nas redes sociais. (A empresa tem 85 milhões de clientes em sua base, 22 milhões dos quais compraram alguma coisa no último ano e 60 milhões nos ultimos dois anos.)
Além disso, o time de TI criou uma ferramenta — “Me Chama no Zap” — que já responde por 20% das vendas online.
Outra métrica do avanço digital: no final de semana, a companhia atingiu 10 milhões de usuários ativos em seus apps, contra 8,5 milhões no mês passado e apenas 1,5 milhão em junho de 2019.
A Via Varejo tem reaberto lojas gradualmente, na medida em que as restrições são suspensas. Neste final de semana, 190 das 1.070 lojas estavam funcionando, e a companhia espera que o número cresça para 220 no domingo que vem.
A dona do Ponto Frio e das Casas Bahia também vai anunciar hoje um passo importante para fortalecer sua logística: a compra da ASAP LOG, uma startup de última milha fundada há mais de cinco anos em Curitiba e com atuação nacional. (A ASAP já prestava serviços para a Via Varejo e seus concorrentes.)
A tecnologia da ASAP “uberiza” a última milha, permitindo que motoristas de aplicativo, motoboys e até ônibus — em rotas no interior do País — entrem no sistema da companhia para pegar e entregar pequenos pacotes a clientes da empresa.
Hoje, a última milha da Via varejo depende de pequenos caminhões com rotas definidas. Ao usar a tecnologia da ASAP, a companhia vai otimizar a entrega a partir de seus ‘minihubs’ — 180 lojas que servem como mini CDs — reduzindo o tempo de entrega em muitos casos de dois dias para duas horas.
“Funciona como os braços de um polvo: vamos quase mandar um carro entregar para cada cliente, e vamos fazer isso em escala nacional,” disse o CEO.
A negociação começou há meses e o contrato foi assinado no sábado. A Via Varejo não divulgou o preço pago.
Numa outra notícia, a companhia disse que sua subsidiária Bartira — a maior fabricante de móveis da América Latina — ganhou uma concorrência para abastecer um pool de incorporadoras residenciais nos EUA por meio de um atacadista.
O contrato inicial tem um volume pré-definido e vai suprir o comprador por seis meses, mas a expectativa da Via Varejo é que este seja o início de um relacionamento comercial de longo prazo. A companhia não abriu o valor do contrato.
Sobre os alugueis, Fulcherberguer disse que a companhia já pagou 100% do referente a março — obtendo descontos — e está “numa negociação forte” com todos os proprietários sobre o mês de abril, algumas envolvendo liminares na Justiça. Cerca de 30% das lojas da empresa ficam em shoppings, e o maior locador, com 280 lojas, é Michael Klein, hoje o chairman e maior acionista da empresa. Klein vai deixar o conselho na próxima assembleia de acionistas.
Fulcherberguer citou dados da GfK que mostram a companhia ganhando share relevante em plena pandemia.
“Quando a crise começou, muitos varejistas fecharam as portas e pararam de receber mercadoria. Fechou o depósito. Nós, não. O final de março é fechamento de trimestre para várias multinacionais. A gente seguiu recebendo mercadoria porque entendemos duas coisas: precisávamos honrar com a indústria para ela não perder o trimestre e, em segundo lugar, quem tivesse mercadoria ia ganhar o jogo. E nós estamos com mercadoria.”
“Alguns dos nossos concorrentes puro-sangue operam o nosso segmento [linha branca e televisores] apenas via marketplace, só que os pequenos sellers não têm mercadoria neste momento, porque a indústria tira o crédito e as seguradoras deixam de fazer seguro. Numa crise dessas, os médios sempre têm problemas.”
SAIBA MAIS