A ação da Infracommerce já caiu quase 20% desde sexta-feira, com a empresa tentando emplacar um novo plano de stock options que vai diluir os acionistas num momento em que a ação negocia na mínima histórica.
Na sexta, o papel caiu 8,7%; ontem, mais 8%. A companhia vale R$ 2,9 bilhões na Bolsa.
O tema ‘stock options’ é sensível para a Infracommerce desde o IPO.
A empresa chegou ao mercado em maio de 2021 carregando um plano que embutia uma diluição de 13% para os acionistas – um percentual muito acima da média de mercado, de 5%.
Aquele plano inicial também tinha um strike price muito favorável aos executivos: entre R$ 0,43 e R$1,44. (A ação foi vendida a R$ 16 no IPO.)
Agora, menos de um ano depois de chegar à Bolsa, a Infracommerce está propondo um novo plano. Como as últimas outorgas do primeiro programa foram feitas em 2019, a empresa alega que precisa de instrumentos de retenção e atração de executivos, pensando em seu futuro como companhia aberta.
Os parâmetros do novo plano estão na média do mercado em termos de diluição, mas – com a ação em queda de 36% desde o IPO – alguns investidores dizem que a empresa está mandando um péssimo sinal ao focar na compensação dos executivos.
“A empresa já chegou à bolsa com um stock option favorável aos executivos e uma diluição acima da média e quer aumentar ainda mais isso. Qualquer minoritário fica contrariado por ser diluído, ainda mais depois de a ação despencar,” disse um analista que também reconhece que o programa de remuneração é uma ferramenta importante de retenção de pessoas.
No IPO, a empresa justificou as características do primeiro plano dizendo que ele havia sido formulado em 2012 para uma empresa de early stage, que tinha muitos fundadores, e que as stock options foram se acumulando ao longo do tempo.
A última rodada de outorga, de 2019, foi para o time que levou a Infracommerce até o IPO. Como a empresa acabou indo para a Bolsa muito rapidamente – em 2021 – não houve tempo para que as opções fossem todas exercidas.
Num caso como esse, o mais correto seria a empresa ter liberado o exercício das opções por conta do evento de liquidez do IPO, e ter apresentado um novo plano já na chegada à Bolsa.
Mas a Infracommerce não seguiu esse modelo e, agora que é uma empresa listada, o conselho não tem um plano de stock options para outorgar pensando no futuro da companhia – daí a proposta de um novo programa.
“Faz um ano que o conselho não tem nenhum stock option para conceder aos executivos que estão vindo do mercado, ou dos M&As. E a empresa triplicou de tamanho,” disse a fonte.
O novo plano proposto pela Infracommerce fala numa diluição de até 5% que, somada ao percentual de 6,9% que a empresa ainda carrega do plano anterior, embute uma diluição possível de 11,9%.
Esses percentuais levam em consideração a base atual de ações e as novas ações que serão emitidas.
Num relatório que fez preço hoje, analistas do BTG Pactual calcularam uma diluição de 13% – e não 11,9% – porque consideraram somente a base acionária atual.
Os analistas ressaltaram que esse é o segundo plano de stock options da Infracommerce que o mercado observa em menos de um ano, e escreveram que os investidores ficaram chocados e não estavam esperando um “novo” plano de stock options agora, já que o primeiro plano já era bastante grande e generoso.
Mas os analistas também disseram que a proposta pode estar antecipando a necessidade de criar incentivos adequados para atrair talentos e reter “estrelas em ascensão” na companhia.
Para um analista, o ruído se instalou no mercado porque muitos investidores ainda não conheciam o primeiro plano de stock options da empresa.
Nos dois planos, não há métricas de desempenho associadas às opções: o ganho está atrelado à valorização da ação apenas, o que acontece em outras companhias abertas, embora alguns investidores prefiram a vinculação a métricas.
No novo plano proposto, e que será submetido à assembleia do dia 28, o conselho da Infracommerce vai definir o strike price, que será baseado no preço médio das ações em um período específico, e poderá dar um desconto de até 20%.
Para um gestor, “a empresa deveria se preocupar em gerar riqueza antes de dividi-la. Essa disciplina financeira vai ser importante para uma companhia que ainda precisa levantar muito capital para sobreviver. O management deveria ter avaliado que o timing para essa discussão não é agora. Erraram feio.”