CHICAGO – A queda da Selic vai começar a bater na ponta final para o consumidor, e a retomada do crédito deverá assegurar um crescimento do PIB de 2,5% em 2024, disse Joaquim Levy, o ex-ministro da Fazenda e hoje diretor de estratégias econômicas do Safra.
Levy e seu time estão na ponta mais otimista com relação à perspectiva de crescimento para o próximo ano. De acordo com o boletim Focus, o consenso de mercado é de um avanço mais tímido, de 1,5%.
“A economia em 2023 foi essencialmente agricultura e exportação,” Levy disse durante sua apresentação no MBA Brasil. “No ano que vem, deverá ser puxada pelo consumo. Isso aumenta a confiança do empresário e incentiva os investimentos.”
Segundo Levy, os bancos haviam praticamente paralisado as concessões de novas linhas por causa da esticada no custo do dinheiro. Já aparecem, contudo, os primeiros sinais de distensão do arrocho monetário.
“A inadimplência diminuiu. Ainda é incipiente, mas faz a mágica,” disse Levy.
Segundo ele, as vendas do comércio tipicamente reagem entre seis e nove meses após a queda dos juros. Esse efeito será percebido no próximo ano. E quando há um ciclo de queda de juros e aumento do consumo, as empresas se sentem mais confiantes para aumentar os investimentos.
“Vai haver uma explosão do investimento? Não. Mas neste ano ele vai ser contracionista,” comentou Levy. “No ano que vem, deve subir uns 2% ou 3%.”
O ex-ministro acredita ser razoável considerar que a taxa real de juros de longo prazo do Brasil seja hoje ao redor de 4% e, com esse nível, “dá para fazer um trilhão de coisas no Brasil via mercado.”
No passado recente, disse Levy, a China contribuiu para o crescimento brasileiro graças ao aumento das exportações nacionais de commodities. Olhando adiante, o Brasil precisará buscar novos vetores de crescimento – e a economia verde tem potencial para ser um deles.
“A gente não vai ter uma nova China, mas essa nova economia, pelas milhões de oportunidades que ela oferece, pode ser uma espécie de nova China,” disse.
Segundo Levy, o Brasil pode triplicar a oferta de energia eólica e solar nos próximos 30 anos, obtendo eletricidade para suprir todas as necessidades domésticas e produzindo um excedente para ser exportado.
“A questão é o que vamos fazer que o mundo gostaria de comprar,” disse Levy, que vê oportunidades como o hidrogênio verde e de fabricar mais mercadorias elaboradas no Brasil no lugar de simplesmente vender commodities.
A reforma tributária poderá contribuir para a retomada dos investimentos em novas áreas. Um dos grandes problemas do sistema atual, lembrou o ex-ministro, é que ele desincentiva o desenvolvimento de cadeias de produção mais longas, de mercadorias com maior valor agregado.
“Atrair investimentos para cadeias sofisticadas requer uma simplificação tributária,” enfatizou Levy.
A reforma tributária vai simplificar a vida das empresas mais simples, afirmou Levy, e “isso é crucial para a economia crescer um pouquinho mais, o que é fundamental para resolver muitos de nossos problemas, como a questão fiscal.”
Para Levy, o grande defeito da reforma é “ela não ter acontecido antes.”
De acordo com Levy, a necessidade de formar consensos torna mais lento o processo de aprovação de reformas, como ocorre agora com a tributária.
“As coisas demoram a acontecer, não são perfeitas, mas a vantagem é que costumam ser mais sólidas”, disse o ex-ministro.
O repórter viajou a convite do MBA Brasil.