Hoje pode acontecer um evento raro: pela primeira vez na história, o Banco Central do Brasil deve elevar a Selic no mesmo dia em que o Federal Reserve deve cortar sua taxa básica. 

Para Luciano Telo, o executivo-chefe de investimentos para o Brasil no UBS Global Wealth Management, a combinação dessas ações – “tudo o mais constante” – tende a fortalecer a moeda brasileira frente ao dólar. 

Nas contas do UBS, o aumento no diferencial de juros poderá chegar a 1,75 ponto percentual ao fim do ano, refletindo uma queda de 1 ponto na Fed Funds e uma alta acumulada de 0,75 ponto da Selic. 

“Com este aumento no diferencial, tudo o mais constante, o real teria espaço para apreciar entre 5 e 10 centavos,” o executivo disse num relatório publicado hoje. “Projetamos R$ 5,40 para o real ao fim de 2024.” 

Nas contas do UBS, o diferencial de juros pode continuar em 2025 e chegar a 3 pontos percentuais – isso se a Selic chegar a 12%, como estima as projeções de mercado, e os juros caírem 0,5 ponto nos EUA. 

“Com tal diferencial, tudo o mais constante, o real teria espaço para apreciar entre 10 e 15 centavos,” comentou Telo. “Nosso target para a metade de 2025 é de R$ 5,30.” 

Para o UBS, no entanto, somente o aumento no diferencial de juros pode não ser suficiente para segurar as expectativas de inflação.

“No médio prazo, a discussão do equilíbrio fiscal deve voltar a ser importante para determinar se a moeda brasileira permanecerá mais forte e se as expectativas de inflação voltam a convergir no Brasil,” diz o banco. 

Para o UBS, o aumento do diferencial de juros é condição necessária mas não suficiente para reancorar as expectativas futuras no centro da meta de inflação. 

“O novo equilíbrio macroeconômico deve se dar com uma cotação de câmbio mais depreciada do que o diferencial de juros indicaria, devido às incertezas fiscais e a inflação flertando com o topo da banda da meta,” diz o relatório.

“Essa combinação não rompe o sistema atual, mas dificulta que o Brasil aproveite o cenário externo benigno – de juros americanos mais baixos – para crescermos mais com inflação controlada.”