O Nubank está comprando a Hyperplane – uma startup de inteligência artificial fundada há dois anos por três brasileiros e um indiano no Vale do Silício – numa transação pequena para o banco mas “extremamente estratégica” para seu futuro, o CEO David Vélez disse ao Brazil Journal.
“Está ficando cada vez mais claro como a inteligência artificial vai ‘disruptar’ várias aplicações em todas as áreas. Fala-se muito em atendimento ao cliente, em fraude… Mas uma área onde ninguém tinha conseguido se provar ainda é nas decisões de crédito,” disse David.
“Até agora, ninguém tinha conseguido criar algoritmos de AI que fossem melhores que os do mercado, que são baseados em regressões.”
A Hyperplane conseguiu fazer justamente isso — e atraiu a atenção do Nubank.
David disse que o banco fez testes com as redes neurais da Hyperplane e conseguiu provar que de fato a modelagem da startup supera os algoritmos internos do banco. “E é muito difícil provar isso,” disse ele.
Uma métrica importante para analisar isso é a chamada ‘area under the curve’, que mede quanto o modelo consegue predizer a inadimplência. Segundo David, essa métrica melhorou usando os algoritmos da Hyperplane.
“70% de todo o profit pool global dos bancos está em crédito, então a decisão de crédito é um ponto-chave para o negócio. Fazer bem crédito é a maior oportunidade que se tem hoje,” disse ele. “Se conseguirmos ser 5%, 10%, 15% melhores nessa tomada de decisão, isso é um incremento gigantesco para o negócio.”
Felipe Lamounier, um dos fundadores da Hyperplane, disse ao Brazil Journal que a startup ajudou o Nubank jogar luz sobre os chamados ‘dados não estruturados’, “que são extremamente valiosos e normalmente não são usados no processo de underwriting de crédito.”
“Esses dados de comportamento de uso, como as sequências de cliques e os textos, são muito importantes nessa análise.”
Segundo Lamounier, o Nubank já fazia um pouco disso, mas a Hyperplane ajudou o banco a dar um segundo passo nessa direção.
Ele disse ainda que além de ajudar na decisão de crédito, a Hyperplane também ajuda no entendimento da jornada do cliente para que os bancos possam oferecer o produto certo para o cliente certo.
Fundada em 2022, a Hyperplane nasceu da cabeça Lamounier, que trabalhou na TOTVS e depois foi do founding team da Startse; Daniel Silva, que trabalhou anos no Google na Califórnia, na área de AI; o indiano Rohan Ramanath, que fez carreira no Linkedin, também na área de AI; e Felipe Meneses, um menino-prodígio que cursava computação e matemática em Stanford e foi o primeiro brasileiro a conseguir uma Thiel Fellowship.
Os fundadores decidiram vender o negócio para o Nubank porque “a velocidade e o poder de execução deles nos surpreendeu bastante,” disse Lamounier.
“É um banco que está pronto para extrair ao máximo o potencial da Hyperplane. Então, em vez de apostar em várias instituições financeiras, achamos melhor apostar na que está mais pronta para isso.”
Antes da venda, a Hyperplane tinha feito apenas uma rodada, de seed money, levantando US$ 6 milhões com Lachy Groom e as gestoras SV Angel, Clocktower Technology Ventures, Liquid2 Ventures, Crestone VC, Soma Capital, Latitud e Atman Capital.