A Eneva acaba de anunciar um aumento de capital de até R$ 4,2 bilhões e a aquisição das quatro térmicas do BTG Pactual por R$ 2,9 bilhões – uma operação que reduz drasticamente a alavancagem da companhia e deve transformar o banco de André Esteves no maior acionista disparado da geradora de energia.
A oferta-base do follow-on será de R$ 3,2 bilhões e está sendo 100% garantida pelo BTG ao preço de R$ 14 por ação – um prêmio de 5,6% sobre o fechamento desta segunda-feira. Se houver demanda, a companhia pretende vender um lote adicional de ações – o hot issue – levantando até R$ 1 bilhão a mais.
Do total levantado na oferta, R$ 1,2 bilhão serão usados para comprar duas térmicas do BTG – a Gera Maranhão e a Linhares – com pagamento em dinheiro.
Outras duas térmicas serão adquiridas com pagamento em ações. A Eneva vai emitir mais 126 milhões de ações, também a R$ 14, avaliando estas duas térmicas em R$ 1,7 bilhão.
Assumindo que o BTG fique com 70% a 80% da oferta-base, a participação do banco na companhia subirá dos atuais 38,3% para cerca de 48% (já incluindo na conta o pagamento em ações das duas térmicas).
Este aumento na participação se dará por meio do Partners Alpha, um veículo dos sócios do banco que hoje tem 15% do capital. (O BTG vai ceder seus direitos de preferência ao veículo.)
O segundo maior acionista da Eneva hoje é a Cambuhy, um veículo da família Moreira Salles que tem 20,1% do capital, seguido das gestoras Dynamo e Atmos, respectivamente com 11% e 5,4% do capital. Estes três investidores têm um acordo patrimonial que alinha seus interesses na empresa.
O CEO da Eneva, Lino Cançado, disse ao Brazil Journal que a entrada dos recursos vai reduzir a alavancagem da empresa de 4,3x EBITDA no final do primeiro tri para 2,5x.
“Essas termelétricas do BTG trazem um fluxo de caixa muito forte – e num período em que a Eneva está com muitas obras e muitos investimentos a fazer. Então tem um casamento de fluxo perfeito,” disse o executivo.
A Eneva vale R$ 21 bilhões na Bolsa.
Como parte da transação, o BTG está se comprometendo a fazer da Eneva seu veículo exclusivo de investimentos no setor de geração térmica e de produção de gás, disse Renato Mazzola, o sócio do BTG encarregado dos investimentos proprietários do banco.
Esse alinhamento é importante para evitar situações como a que ocorreu no final de 2021, quando a Gera Maranhão – controlada pelo BTG – competiu com a Eneva no leilão de capacidade.
A incorporação das termelétricas terá um impacto significativo nos números da Eneva – especialmente na rentabilidade da operação.
A receita dos últimos doze meses da companhia vai subir de cerca de R$ 10 bilhões para 12,6 bilhões; o EBITDA vai passar de R$ 4,3 bi para R$ 6,1 bi, com a margem subindo de 42,7% para 48,5%.
O lucro da Eneva – hoje deprimido por uma alta despesa financeira relacionada a um capex que ainda não gera resultado – sairá dos atuais R$ 200 milhões para R$ 1,6 bilhão.
Mas a fotografia do lucro das térmicas é melhor do que o filme, pois parte delas tem contratos expirando em 2027 e 2028, enquanto outras têm contratos pelos próximos 15 anos. (A capacidade que expira pode ser recontratada se a empresa vencer o leilão de capacidade marcado para o fim do ano, mas muito provavelmente em termos bem menos atrativos que os atuais, obtidos num leilão emergencial).
As térmicas adquiridas são 50% a óleo e 50% a gás, em termos da capacidade instalada. Lino disse que “a melhor possibilidade dessas térmicas a óleo serem convertidas para gás é fazendo parte do portfólio da Eneva. A Gera, por exemplo, está no Maranhão onde temos maior reservas de gás natural.”
Três das quatro térmicas do BTG tiveram seus contratos repactuados pela Secex Consenso, a câmara de resolução de conflitos do TCU – o que desobrigou as térmicas de gerar energia o tempo todo, eliminando seu principal custo e potencializando ainda mais a rentabilidade da operação.
Os três conselheiros do BTG se abstiveram de votar na transação, que foi aprovada de forma unânime pelos outros quatro conselheiros da Eneva.
As condições da oferta – com o BTG sozinho garantindo 100% da oferta-base – sugerem que a Cambuhy, que durante anos disputou protagonismo na empresa com o banco de André Esteves – não deve acompanhar a oferta.
“A briga dos últimos anos para ver quem controlaria os rumos desta companhia parece finalmente ter se encerrado,” disse uma pessoa com trânsito na Eneva.