O Brasil pode ser um patinho feio quando o assunto é a produtividade de sua economia.
Mas no agronegócio, o País é o benchmark global.
“Quando analiso a demanda em cada país e o espaço para crescer, o cenário é muito animador. Mas quando olho para a evolução da produtividade mundial e a do Brasil, é aí que está o grande diferencial que conquistamos nos últimos 40 anos,” Aurélio Pavinato, o CEO da SLC Agrícola, disse hoje cedo na Agriculture Investment Conference, organizada pelo UBS/Credit Suisse.
Segundo ele, a produtividade do agronegócio brasileiro cresceu numa média de 3,6% ao ano nos últimos 40 anos, enquanto a produtividade global do setor cresceu numa média de 1,4%.
O resultado: hoje, a produtividade do Brasil é de 6 toneladas por hectare de terra cultivada — quase o dobro da média mundial (de 3,5 toneladas por hectare).
“Nossa produtividade de soja é a melhor do mundo, e a do algodão das lavouras de sequeiro também,” disse ele. “Foi essa evolução da produtividade que transformou o agro brasileiro no sucesso que ele é hoje.”
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No mesmo painel, Ricardo Faria, da Granja Faria, disse que o otimismo com o agro brasileiro tem fundamento.
“Há 10 anos, milho e soja eram produtos feitos basicamente para alimentar galinha, frango e suínos,” disse ele. “Isso mudou de forma muito rápida. Só nos EUA, o esmagamento de milho consome o equivalente a uma safra inteira de milho brasileiro.”
Ele nota que o Estados Unidos usa 55 milhões de toneladas de soja para esmagamento hoje — e que esse número deve subir para 70 milhões em dois anos.
“Em cinco, dez anos, o EUA não vai ser mais um exportador de soja para o mundo porque ele vai consumir tudo para SAF [combustível sustentável de aviação] e outros biocombustíveis de segunda geração,” disse ele.
Faria disse ainda que o agro brasileiro tem dois atrativos.
“Enquanto a indústria tem depreciação — daqui quatro, cinco anos, ela vai valer menos — a terra é igual vinho, quanto mais velha, mais ela vai produzir. Então é um ativo que tem carrego,” disse ele. “Além disso, é um ativo que tem yield, que gera resultado positivo ano a ano.”
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Rubens Ometto, o controlador da Cosan, falou da oportunidade do etanol de segunda geração — um biocombustível produzido a partir do bagaço da cana.
A Raízen está construindo 12 fábricas de etanol de segunda geração no Brasil que vão produzir milhões de toneladas do biocombustível por ano. “E toda essa produção já está vendida em euro,” disse ele. “E vendemos tudo pelo dobro do preço do etanol de primeira geração. Porque os incentivos fiscais desses países dão condições para isso.”
Rubens disse ainda que não acredita “naqueles políticos que falam que até 2040 vai acabar o combustível fóssil. Isso é uma atitude populista, irresponsável. Até 2040, [o político] não tá mais aí.”
“Acho que o mundo vai continuar consumindo petróleo, mas esses combustíveis alternativos devem crescer muito nas próximas décadas, porque o mundo vai pagar mais por isso.”
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Apesar do potencial, Rubens disse que o etanol está sendo muito maltratado no Brasil.
Para ele, o Governo Lula está apostando na mesma política do Governo Dilma: tentar controlar o preço dos combustíveis artificialmente para combater a inflação.
“Isso fez com que centenas de usinas fechassem as portas e outras entrassem em recuperação judicial,” lembrou. “Hoje, tem uma defasagem do preço da gasolina com o mercado internacional e todo mundo faz a continha do 0,7x e aí não compra o etanol,” disse ele.
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Questionado sobre o racional da Cosan em seu investimento na Vale, Rubens brincou que “também queria entender”, tirando gargalhadas da plateia.
“O racional da Vale é que somos empreendedores, investidores, e isso é quase um vício,” disse ele. “Analisamos bem e vimos que era uma boa oportunidade de investimento, que o preço estava bom. E vimos que o minério tinha muito a ver com logística e com energia, áreas que dominamos.”
Outro fator na análise, segundo ele, foi o quadro acionário da Vale. “Só tinha gente do mercado financeiro: Bradesco, BlackRock, Previ, Mitsui… Achamos que poderíamos contribuir muito com uma visão de empresário, de industrial. Dar esse viés que possa ajudar a melhorar a organização.”
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Outro tema de destaque no evento foi o crescimento dos biológicos — e o impacto que isso terá na agricultura.
Marcelo Lima, do Tarpon 10b, um fundo focado exclusivamente no agronegócio, disse que os defensivos e fertilizantes biológicos vêm sendo tratados como a terceira grande revolução da agricultura — para ele, com razão.
“Quanto mais o produtor usa o biológico, mais o solo se regenera. Regenerando o solo, ele pode sequestrar carbono e tudo isso gera mais produtividade para ele,” disse o gestor, que é investidor da Agrivalle, focada nesse mercado. “A adoção tem acontecido porque funciona. Quem adota há duas, três safras já vê que o solo realmente regenera.”
Pavinato, da SLC, disse que o uso de biológicos é um dos dois projetos estratégicos que a companhia tem apostado — e que eles têm funcionado muito bem para o controle das pragas nas fazendas.
“Ano passado reduzimos em 12,5% o uso de químicos, usando os biológicos em nossas fazendas. E o futuro é promissor. Acho que dá para reduzir em uns 40% usando os biológicos.”
O outro projeto estratégico é a agricultura digital — basicamente, fazer o levantamento de pragas e doenças usando satélites e dados de georeferenciamento. Com essas informações, é possível aplicar os defensivos de forma localizada, em vez de aplicar em toda a área do plantio, como acontece hoje.
“Isso está só começando no Brasil, e temos grande potencial nos próximos anos. Economiza muito no uso dos defensivos e conecta com a sustentabilidade, porque é um uso mais consciente dos recursos naturais.”
Para ele, essas duas inovações devem contribuir para a produtividade do agro brasileiro avançar ainda mais.