Se os investidores precisam de motivos para acreditar que a Presidente Dilma Rousseff não obterá um segundo mandato, muito provavelmente estarão de bom humor hoje cedo.
Numa entrevista ao Roda Viva ontem à noite, o candidato Eduardo Campos mostrou que consegue deixar a direita excitada e a esquerda nervosa — e que deve ajudar a levar a eleição para o segundo turno.
É verdade que o Roda Viva é assistido pela elite da elite da elite brasileira, e que o programa não atinge as pessoas cujos votos decidem eleições, mas numa campanha até agora fadada à tradicional polarização PT-PSDB, Campos mostrou que pode conseguir votos no centro, fazendo a crítica ao regime atual, e à esquerda, reconhecendo as conquistas da era Lula.
Conseguiu produzir gols retóricos ao dizer que “a mãe do PAC começou a ser a madrinha da inflação, a madrinha do baixo crescimento, da desestruturação do setor elétrico, a madrinha do que está acontecendo na Petrobras”, e ao afirmar que a disputa entre petistas e tucanos é “o debate do hoje contra o ontem, e o amanhã chegando..”
O candidato que já defendeu a independência formal do BC e uma meta de inflação mais dura (3%) foi perguntado se realmente acredita nessas propostas ou se as fazia para conquistar o eleitorado mais conservador. Respondeu dizendo que o governo Dilma “não é de esquerda”, pois não foi bem nos quatro quesitos “historicamente de esquerda”: crescimento, industrialização, soberania nacional (ameaçada pelo déficit na balança de pagamentos) e reforma agrária (que teve “os piores resultados de todos os tempos”).
A retórica também estava afiada ao falar do sequestro do Estado pelos partidos fisiológicos da base aliada. “A sétima economia do mundo não pode mais achar que vai continuar distribuindo cargos em estatais, fundos de pensão e agências reguladoras. Isso ‘colapsou’. Dilma teve oportunidade de romper com isso e, eu digo com muita tristeza, não o fez”.
Num País onde o termo “Nova República” já foi insígnia de esperança (e depois decepção), Campos vende a “nova política”, que, segundo ele, tem que responder aos três momentos transformadores da vida nacional: a redemocratização, a estabilização econômica e a inclusão social.
Sobre privatizações, equilibrou-se naquele conveniente muro semântico onde já se aninharam nomes do PT e do PSDB. “Não tenho nenhum preconceito com privatização, mas não enxergo na estrutura do Estado o que privatizar, enxergo o que conceder.”
Sobre os políticos fisiológicos, disse que “os que não forem aposentados pelo povo temos que ter a coragem de botar na oposição”.
Perguntado sobre como responderia a uma inevitável tentativa de adesão de políticos como José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, respondeu: “Mudou a música! Estamos avisando de agora que mudou a música! Não tem mais isso. Não tem mais fundo de pensão pra dar, não tem mais agência reguladora pra fazer a dobradinha de político com empresário pra ir favorecer lá na agência. Quem tiver coragem de fazer isso o povo brasileiro vai aplaudir.”
Disse que vai diminuir à metade o número de ministérios, estabelecendo um modelo de gestão com “metas, meritocracia, transparência”.
Pessoas do mercado financeiro — e são muitas — que se reuniram com Campos nos últimos meses entraram nas reuniões céticas e saíram impressionadas. Os relatos são consistentes com o que se viu no programa.
Os méritos do candidato à parte, para o mercado, por enquanto, o essencial é que se Campos crescer um pouquinho (o que parece provável dada a performance de ontem), garante o segundo turno.