Historicamente uma das empresas mais bem avaliadas da Bolsa, a Ultrapar divulgou resultados que decepcionaram até mesmo as expectativas já conservadoras do mercado, mostrando que está com dificuldades para crescer e ganhar margens, num ambiente em que o caminho de expansão via fusões e aquisições se estreitou após os vetos do CADE à compra da Liquigás e da AleSat.  

A empresa surpreendeu também com duas movimentações no seu management. Marcando o fim de uma era, Paulo Cunha — o icônico industrialista que comandou a companhia de 1981 a 2006 — renunciou à presidência do conselho. Aos 77 anos, Cunha vai passar o bastão a Pedro Wongtschowski, que já o havia sucedido como CEO de 2007 a 2012 e era o atual vice-presidente do conselho.

André Covre, um ex-CFO, está saindo da companhia após 14 anos de casa. Desde 2015, Covre estava estava encarregado da Extrafarma, o negócio de farmácias do grupo, que ainda não conseguiu ganhar tração. Ele será substituído por Rodrigo Pizzinatto, o atual diretor comercial da Extrafarma.

Os males da Ultrapar se dividem em duas categorias.

Primeiro, a companhia está sofrendo com o aumento da concorrência na distribuição de combustíveis.  No último ano, por causa de seu IPO, a BR Distribuidora acordou de seu berço esplêndido e tem agido mais como empresa privada do que como a estatal que é. Outro fator: com a política da Petrobras de reajustar os preços da gasolina e do diesel diariamente (a partir de julho de 2017), a arbitragem do combustível importado vis-à-vis o mercado internacional ficou reduzida, espremendo os ganhos que os distribuidores tinham com a importação desde o final de 2016.

Além disso, para tentar manter o crescimento de EBITDA, a estratégia da Ultrapar foi sacrificar volumes por margens ao longo do último ano, permitindo que Raízen e BR Distribuidora ganhassem mercado. A estratégia alienou donos de postos embandeirados pela Ipiranga. “Para reconquistar a base, eles terão que deixar dinheiro na mesa,” diz um investidor.

Há duas semanas, o UBS havia previsto em relatório que a Ipiranga reportaria um volume com crescimento zero e uma margem EBITDA de 115/metro cúbico vendido. Veio pior.

O EBITDA caiu 48% na comparação anual e o lucro minguou 79% para R$ 74 milhões. A multa de R$ 286 milhões referente à compra frustrada da Liquigás poluiu os números mas, mesmo desconsiderando esse fator, o EBITDA teria caído 12% ano contra ano.

O desempenho da Ipiranga, de longe o maior negócio do grupo, foi o mais decepcionante. As margens despencaram, passando de R$ 124 por metro cúbico no primeiro tri do ano passado para R$ 108 neste ano, sinalizando que houve menos ganhos com importação de combustíveis e que o ambiente competitivo está mais acirrado.

Os números dispararam uma onda de revisões negativas no sellside, que já previa números fracos. O UBS, que no papel ainda tem uma recomendação de compra com preço-alvo de R$ 84/ação, disse que vai revisar os números.  

O Credit Suisse se perguntou se ‘a lua de mel acabou?’ e cortou o preço-alvo da ação de R$ 89 para R$ 77. “Há algum ponto de inflexão próximo? Essa é a questão que o mercado tem se perguntado,” disseram os analistas do banco.

Nas demais divisões, o desempenho não foi muito superior: na Oxiteno, foram pressionados por baixos volumes e custos maiores, enquanto na Ultragaz, sem o pagamento das multas, o resultado operacional teria ficado estável.

A saída de Covre mostra que a Extrafarma, o braço de farmácias que teve início em 2013, está demorando para decolar. Foram abertas sete lojas no primeiro trimestre totalizando 401 unidades em 13 Estados. Mas o resultado operacional ainda ficou no zero a zero, com a contribuição negativa das lojas abertas nos últimos meses e que ainda não atingiram a maturidade.

No ano passado, a Ultrapar já havia frustrado as expectativas do mercado, após a direção da empresa prever um crescimento de 10% do EBITDA e entregar um avanço de apenas 2%. Desde o começo de fevereiro, quando foram divulgados os resultados referentes a 2017, as ações já caíram 25%.