A ação da Kepler Weber está trocando de mãos.

Nos últimos dias, a volatilidade do papel aumentou e o volume de negócios ficou bem acima da média, sugerindo que algum acionista relevante vendeu sua posição.

A mudança na base acionária vem num momento de incerteza sobre o futuro estratégico da companhia.

Na semana passada, Olivier Colas — um vice-presidente que acumulava os cargos de CFO e RI — deixou a companhia.  Colas frequentemente conversava com acionistas da empresa sobre a necessidade de um turnaround na Kepler, que, até o terceiro trimestre do ano passado, caminhava para o terceiro ano consecutivo de prejuízo. Ao Brazil Journal, Colas disse que sua saída da companhia foi amistosa e que teve a ver “apenas com o encerramento de um ciclo profissional”.

Uma pequena ferraria fundada em 1925 pelos irmãos Otto Kepler e Adolfo Kepler Jr., a Kepler Weber é hoje o que o mercado costuma chamar de ‘empresa de fundo de pensão’. Seus maiores acionistas são a Previ e o Banco do Brasil, que juntos têm 35% da companhia. A base acionária inclui ainda a Geração Futuro (13%), o investidor Fernando Heller (13%), o Banco Clássico, do investidor Juca Abdalla (10%) e um fundo da Sul América (8%).

No início do ano passado, a AGCO — um gigante mundial de equipamentos agrícolas — fez uma oferta para comprar as participações da Previ e do BB por R$ 22 por ação, que então negociava a R$ 17. Na época, a AGCO informou também sua intenção de adquirir a totalidade das ações da Kepler e de fechar seu capital por meio de uma oferta pública. No entanto, como condição precedente, a AGCO disse em seu comunicado que só fecharia o negócio se conseguisse adquirir, no mínimo, 65% do capital, ou seja, 30% além da participação do Banco do Brasil e da Previ.

Em meados de novembro — aparentemente por não conseguir negociar a compra dos outros 30% — a AGCO desistiu da Kepler. Com a notícia, a ação embarcou numa montanha russa:  caiu de cerca de R$ 21 para cerca de R$ 18, voltou a negociar a R$ 21 no início de janeiro, e mergulhou para R$ 13 na sexta-feira, com algum vendedor relevante pressionando os preços. Desde o início da semana, a ação só sobe, também com um volume bem acima da média.

Num País que é um dos maiores produtores de grãos do mundo, a Kepler deveria nadar de braçada. A companhia tem 50% de share no mercado de equipamentos para armazenagem de grãos; o segundo player tem apenas 12%.   

Apesar dessa posição privilegiada, a Kepler tem perdido dinheiro.  Em 2015 e 2016, a recessão deprimiu as vendas da empresa, que carregava muita gordura em seus custos desde o ciclo anterior.  Em 2017, quando as vendas já melhoravam, a alta do aço liquidou a margem e, até o terceiro trimestre, a companhia estava no vermelho.

A Kepler fabrica toda a linha de equipamentos que formam uma unidade de armazenagem — silos, máquinas de limpeza de grãos, secadores e transportadores horizontais e verticais — e até recentemente só enfrentava a concorrência de empresas nacionais de pequeno porte que não ameaçavam sua liderança. 

Mas de uns tempos para cá, dois pesos-pesados do setor começaram a botar o pé no Brasil. A canadense AGI adquiriu a Entringer em 2016, e já fala em ampliar a capacidade de produção da fábrica.  A AGCO já tem uma pequena base industrial no interior do Rio Grande do Sul. 

Ambos os players têm faturamento anual superior a US$ 500 milhões e presença na Europa, Ásia e América do Norte. Agora, estão voltando suas baterias para o último bastião que ainda não dominam.

Para os acionistas da Kepler, a grande questão é saber se a companhia está preparada para defender sua posição, tanto em termos de competitividade quanto na questão da inovação. 

Pelos resultados mais recentes, a questão da competitividade industrial ainda não está resolvida. Já no quesito inovação, nem a Kepler nem o resto da indústria de armazenagem em geral tem muito a mostrar no Brasil. 

“Enquanto outros equipamentos como máquinas colheitadeiras já são repletos de tecnologia embarcada, o mercado de silos agrícolas no Brasil não mudou nada nos últimos anos,” diz um investidor.

Tendo em vista a chegada dos concorrentes, o futuro da Kepler parece binário: ou se reinventa para competir, ou acabará comprada por eles.