A vida da Kraft Heinz acaba de ficar mais doce: a Mondelez anunciou que desistiu de comprar a Hershey Co., uma transação que iria gerar a maior empresa causadora de cáries no mundo.
O motivo de felicidade da Heinz: 9 entre 10 analistas e gestores apostam que é apenas questão de tempo até ela fazer uma oferta pela Mondelez, tarefa que fica mais fácil (ou menos difícil) agora.
Na verdade, a Mondelez é tida como um ‘match’ tão perfeito para a Heinz que, quando a Heinz anunciou a compra da Kraft, muitos investidores se decepcionaram com a escolha do alvo: a Kraft tem cerca de 70% de suas vendas nos EUA, enquanto a Mondelez é uma empresa global (74% das vendas em países fora da América do Norte).
Além disso, o portfólio de marcas da Kraft está com as vendas estagnadas, enquanto a Mondelez ainda é vista como um portfólio em crescimento — apesar de ter sofrido com a estagnação da renda dos emergentes nos últimos anos e de estar tomando porradas cambiais em vários países emergentes, como o Brasil.
Agora, o fato da Hershey ter botado a Mondelez para correr — fazendo jogo duro nas negociações — impede que a Mondelez engorde seu balanço. Obviamente, um balanço menor é mais fácil de ser engolido pela Kraft Heinz.
A empresa de ketchups, molhos e mostarda comandada pelos brasileiros da 3G Capital vale hoje US$ 107 bilhões; a Mondelez vale US$ 67 bilhões. (A Hershey aumentaria a conta, por baixo, em US$ 24 bilhões).
Agora, a Kraft Heinz tem que convencer a CEO da Mondelez, Irene Rosenfeld, a vender a empresa. A tentativa de compra da Hershey foi vista no mercado como um movimento defensivo por parte da CEO, que sabe do interesse da Kraft Heinz e queria dificultar uma venda.
Foi a própria Irene quem fez o spinoff da Kraft que pariu a Mondelez em 2012. Na época, toda empresa americana buscava se vender ao mercado como uma história de mercados emergentes ‘disfarçada’: com o consumo na China, Brasil e India bombando, o mercado pagava múltiplos mais altos para empresas expostas a esses mercados.
Na Kraft, o portfólio de marcas no mercado americano era um negócio que gerava um bom caixa mas não crescia; já as marcas globais (que se tornariam a Mondelez) eram um portfólio de crescimento acelerado, com concentração nos emergentes.
Só que a maré dos emergentes virou, e hoje muita gente acha que chegou a hora de fazer a engenharia reversa: colocar a Mondelez de volta dentro da Kraft, agora gerida pelos brasileiros.
Parte dos ganhos de uma fusão aconteceria se o time comandado por Bernardo Hees conseguir convergir a margem da Mondelez (17% em 2015) para as da Kraft Heinz (25%).
“Uma Kraft Heinz Mondelez seria uma coisa muito poderosa,” diz um gestor.
Falta só combinar com a Irene.