Num movimento ousado, a Zenvia anunciou o início de um novo ciclo estratégico, aceitando reduzir de tamanho para se reposicionar como um ‘pure play’ de SaaS e capturar os altos múltiplos desse modelo de negócios no mercado. 

Neste novo ciclo, a Zenvia vai focar sua expansão no Customer Cloud — um produto que a empresa lançou em outubro unificando várias soluções de software que havia adquirido nos últimos anos.

Como parte da estratégia, a Zenvia também avalia vender ativos que não fazem parte dessa oferta, incluindo seu produto core de CPaaS (communication platform as a service) — que hoje responde por dois terços da receita, ou cerca de R$ 600 milhões. 

“Depois desse ciclo, a Zenvia deve reduzir muito de tamanho, mas vai se tornar um player puro de software, com mais crescimento, mais margem, sem dívida e com mais empresas comparáveis na Bolsa,” o CEO e fundador Cassio Bobsin disse ao Brazil Journal.

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Depois de ver sua ação derreter de US$ 19 para US$ 2,70 nos últimos anos, a Zenvia hoje vale apenas US$ 140 milhões na Nasdaq, com um enterprise value de US$ 210 milhões. (A dívida líquida é de US$ 70 milhões.) 

Considerando o EBITDA de US$ 20 milhões estimado para este ano e a receita de US$ 150 milhões, ela negocia a um múltiplo EV/EBITDA de 10x e um EV/sales de apenas 1x.

O CFO Shay Chor disse que empresas de software “com o perfil que queremos nos tornar negociam a pelo menos 6x receita, podendo chegar a mais de 10x quando têm crescimento e EBITDA positivo. Depois desse ciclo estratégico, esperamos negociar a esses múltiplos.”

Se conseguir esta reprecificação em Bolsa, o plano da companhia é fazer um follow-on para resolver outro problema que é uma âncora para o preço da ação: seu baixo free float e liquidez.

O float da Zenvia hoje é de cerca de 13%, e a liquidez diária é de apenas US$ 330 mil. O maior acionista é Cassio, que ainda tem 37% das ações, seguido pela Oria Capital, com 27%, pela Tencent, com 7%, e pela Twilio, que ancorou o IPO da empresa e tem outros 7% do capital.

A venda do CPaaS seria uma mudança existencial para a Zenvia, fundada em 2003 com apenas este produto, que permite que empresas façam o disparo em massa de SMS — por exemplo, para a autenticação de dois fatores numa abertura de conta bancária.

Shay disse que esse tipo de negócio negocia a cerca de 1x receita, em média. Em outras palavras, a Zenvia poderia levantar US$ 100 milhões com a venda de seu CPaaS, zerando com folga sua dívida líquida.

Um comprador óbvio seria a própria Twilio, que além de já ser acionista da Zenvia é uma das maiores empresas de CPaaS do mundo. No Brasil, inclusive, ela já opera por meio de uma parceria com a Zenvia, que compra para ela os pacotes de SMS das operadoras de telecom.

Se vender o CPaaS, a Zenvia se tornaria uma empresa apenas de SaaS, focada basicamente no Customer Cloud, que oferece aos assinantes uma solução de marketing, interação com os clientes nas redes sociais com bots e pessoas, e uma ferramenta que ajuda na conversão — completando o ciclo completo de vendas.

Essa solução é um concorrente direto da Take Blip, que levantou US$ 60 milhões com a Microsoft e o Softbank há poucos meses.

Segundo Cassio, o Customer Cloud já tem uma receita de R$ 180 milhões, com uma margem bruta de 70% e margem EBITDA positiva. A solução tem 5.700 assinantes, e 20% da receita vem de fora do Brasil. 

“É um negócio preparado para o futuro: um SaaS baseado em inteligência artificial,” disse Cassio. “Também é um negócio que tem uma margem bruta maior que a do consolidado da empresa, que é de 40%.”

Para se adequar ao novo momento, a Zenvia também está cortando 15% de seu quadro de funcionários, o que deve reduzir seu SG&A de 2025 em R$ 30 milhões a R$ 35 milhões, já considerando os custos de desligamento.