Pouco mais de um ano atrás, o Brazil Journal reportou um resultado da Ipiranga com o título maldoso: “Ouviram da Ipiranga as margens flácidas.”
Agora, as piadinhas vão ter que acabar.
A Ultrapar reportou um primeiro trimestre que surpreendeu o mercado — com todos os negócios da holding apresentando forte expansão do top line e das margens.
O EBITDA da dona dos postos Ipiranga, da Ultragaz e da Ultracargo atingiu R$ 1,08 bilhão, batendo o consenso do sellside em 18%.
O lucro líquido de R$ 262 milhões foi mais que o dobro de um ano antes, vindo em cima de uma receita líquida que subiu 3% para R$ 30 bilhões.
O destaque do trimestre, na visão do JP Morgan, foi a Ipiranga, que teve um EBITDA de R$ 540 milhões, um ganho de impressionantes 70,9% na comparação com o tri anterior.
Este é o primeiro trimestre em que o turnaround do CEO Marcos Lutz começa a dar resultados.
O EBITDA por metro cúbico da Ipiranga — a margem da operação — disparou 88,4% em relação ao quarto trimestre para R$ 99/m3.
A alta robusta teve a ver com uma sobreoferta de combustíveis no quarto tri por um maior volume de importações, e essa retomada deve ser sentida em todo o setor, incluindo Raízen e Vibra.
A margem do primeiro tri ficou acima do consolidado do ano passado, que ficou em R$ 93/m3. “Isso também é fruto de todo esse processo em andamento: o ganho de escala, pelo volume maior, a gestão mais adequada do estoque, uma precificação melhor e o tratamento mais adequado das despesas,” o CFO Rodrigo Pizzinatto, disse ao Brazil Journal.
Na comparação ano contra ano, o EBITDA/m3 caiu 11%.
Segundo o CFO, o que tem puxado os resultados para baixo são as reduções de preços de combustíveis, que têm efeito sobre o estoque, mas a companhia conseguiu manter um bom desempenho por conta dessas medidas de ganho de eficiência.
O BTG disse que o aumento da margem da Ipiranga indica uma melhora significativa no ambiente competitivo depois da sobreoferta do quarto tri. Além disso, mostra uma estratégia comercial “coerente, que é comprovada pela manutenção do market share da companhia.”
“A continuação do fechamento de alguns postos de gasolina possivelmente está ajudando, na medida em que a Ipiranga fica com os postos mais rentáveis e foca nas unidades com mais vendas,” escreveu o BTG.
A Ipiranga começou a fazer um pente fino em sua rede desde abril do ano passado, fechando postos que têm contribuição pequena para os volumes e que estavam sendo detratores do resultado. Segundo o CFO, a prova de que a estratégia está funcionando é que a Ipiranga conseguiu crescer volumes nesse tri e aumentar as margens mesmo com o fechamento dos postos.
A Ipiranga fechou 254 postos no tri e agora tem 6.521 postos. Nos últimos doze meses, ela já fechou 605 locais de venda.
O BTG nota, no entanto, que o ROIC anualizado da Ipiranga caiu de 13% no quarto tri para 11% agora — basicamente por conta de um aumento do capital usado para pagamentos de curto prazo a fornecedores.
A Ultragaz e a Ultracargo também cresceram suas receitas e EBITDA — mas num ritmo menor.
A Ultragaz fez um EBITDA de R$ 385 milhões no trimestre, uma alta de 4,8%, enquanto a Ultracargo fez um EBITDA de R$ 142 milhões, uma alta de 10% na comparação trimestral. As duas se beneficiaram de custos menores, mas tiveram dinâmicas opostas em relação aos preços.
Enquanto a Ultragaz sofreu com uma queda nos preços de vendas (de 5,5%), a Ultracargo teve um aumento nos preços por conta de reajustes contratuais. A companhia também conseguiu reduzir suas despesas com pessoal e expansão.
Na Ultragaz, o UBS destacou o aumento sequencial da margem, que fechou o primeiro tri em R$ 922 por tonelada, em comparação à projeção de R$ 760/ton do próprio banco. “A recorrência desses resultados pode levar a uma revisão positiva de lucros para a empresa,” disse o banco.
Segundo o CFO, o volume da Ultragaz ficou acima das projeções que a própria empresa havia feito três meses atrás.
A companhia teve uma alta de 10% no volume de vendas do chamado GLP a granel, que é vendido em tanques estacionários. Já o GLP envasado (o botijão) cresceu 2% em volume.
Do lado negativo, a Ultrapar reportou uma queima de caixa relevante, de R$ 750 milhões, impulsionada por um aumento na demanda por capital de giro. O fluxo de caixa negativo fez a alavancagem aumentar em 0,3 ponto para 2x o EBITDA.
O CFO disse que o fluxo de caixa negativo teve a ver com dois fatores. O primeiro é uma sazonalidade natural do negócio, que tem dinâmica de capital de giro mais positiva no quarto tri e mais negativo no primeiro tri.
O segundo é o fato da empresa ter reduzido seu saldo de risco sacado em R$ 900 milhões no trimestre e aumentado o endividamento na mesma magnitude. “Com a questão da Americanas, o custo do risco sacado aumentou. Por um custo similar, achamos melhor tomar dívida com prazo mais longo, o que afetou o capital de giro,” disse ele.
Os resultados bem acima das expectativas do sellside devem levar a uma revisão nas projeções dos analistas para o ano, com um impacto potencial nos preços-alvo para a ação.
A Ultrapar negocia hoje a cerca de 18x seu lucro estimado para este ano. A companhia vale R$ 16 bilhões na B3.