A Bolívia acaba de eleger Rodrigo Paz Pereira, da centro-direita, como seu novo presidente – dando fim a duas décadas de governos de esquerda e trazendo perspectivas de reformas na economia.
“Precisamos abrir a Bolívia para o mundo,” Paz disse em discurso logo após a confirmação da vitória.
Senador pelo Partido Democrata Cristão, o presidente eleito é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou entre 1989 e 1993.
Em sua campanha, usou o slogan “capitalismo para todos” – defendendo os investimentos privados, mas prometendo também manter programas sociais.
Paz, de 58 anos, assume em 9 de novembro. Terá como prioridade estancar uma crise severa — que, em muitos aspectos, lembra a ruína da Venezuela chavista.
De grande exportador de gás no passado recente – inclusive com vendas para o Brasil – a Bolívia agora depende de combustíveis importados. Há racionamento, com motoristas fazendo filas de horas para conseguir abastecer.
O crescimento econômico desabou para próximo de zero, e a falta de dólares na economia pressiona os preços. A inflação roda acima de 20% ao ano.
O ex-presidente Evo Morales, líder do Movimiento Al Socialismo (MAS), estatizou a indústria de petróleo e gás em 2006. A utilização política dos dividendos obtidos com os recursos minerais ganhou votos por algum tempo, mas a falta de investimentos arruinou o setor e lançou o país na crise.
Sindicalista dos plantadores de coca, Evo ficou 13 anos no poder. Chegou a tentar um quarto mandato em 2019, mas enfrentou resistência política e renunciou. Elegeu Luis Arce como sucessor, mas ambos se tornaram adversários.
O MAS evaporou politicamente. O partido ficou com 3% dos votos no primeiro turno. Acusado de corrupção e estupro, Evo vive refugiado em um acampamento. Na eleição anterior, há cinco anos, Arce – então candidato pelo MAS – ganhou no primeiro turno com 55% dos votos.
Com discurso mais moderado e conciliador, Paz saiu vitorioso nos antigos redutos dos socialistas de Evo. Derrotou no segundo turno o conservador direitista Jorge ‘Tuto’ Quiroga, da aliança Liberdade e Democracia (Libre).
Um dos trunfos de Paz na disputa foi seu vice, o advogado e ex-capitão de polícia Edmand Lara. Segundo os analistas políticos, o “Capitão Lara” atraiu apoio popular para a chapa vencedora. Ativo nas redes sociais e próximo dos evangélicos, fez fama denunciando a corrupção e abusos policiais.
Mas os democrata cristãos, de Paz, não terão maioria no Congresso. O partido ficou com 49 das 130 cadeiras da Câmara, e 16 das 36 do Senado – forçando o Governo a alianças para levar adiante a sua agenda.
Paz é formado em Relações Internacionais pela American University, em Washington. Está há mais de duas décadas na política. Foi prefeito de Tarija, a capital do departamento de Tarija, e também deputado e senador.
O novo presidente declarou que vai reconstruir os laços com os EUA. Um possível acordo com o FMI pode fazer parte das conversas.
O país hoje tem um déficit fiscal de 10% do PIB. Apenas os custos com os subsídios dos combustíveis custam US$ 2 bilhões do ano – algo como 4% do PIB.
Em 2023, sem dólares nas reservas, o Governo vendeu as reservas em ouro para quitar dívidas e fazer importações de produtos básicos.
O câmbio, na cotação oficial, é mantido fixo em 7 bolivianos por dólar há 15 anos. Mas no mercado paralelo, o verde custa o dobro.