A Gavekal levantou dúvidas sobre quanto o Federal Reserve está sujeito a pressões do Governo Trump – especialmente até que a sucessão de Jerome Powell na presidência do Fed seja definida.
Num relatório publicado hoje, a consultoria lembra que, depois de o FOMC ter decidido na semana passada manter os juros por unanimidade, Powell afirmou que não havia pressa em cortar.
Alguns dias depois, porém, três membros votantes do FOMC indicaram – “curiosamente”, na visão da Gavekal – a possibilidade de uma redução já na próxima reunião, marcada para julho.
Powell voltou ao tema ontem. Em depoimento ao Congresso, afirmou ser necessário esperar os dados de inflação de junho e julho – que mostrarão como a economia está reagindo aos aumentos de tarifas.
“Diferenças de opinião são esperadas em um momento em que a inflação está próxima da meta e o mercado de trabalho apresenta sinais mistos,” escreve a Gavekal.
Além disso, o trio que sugeriu um corte já em julho – Michelle Bowman, Christopher Waller e Austan Goolsbee – são conhecidos por sua postura dovish.
Mesmo com essas ressalvas, a consultoria diz ver uma “dose incomum” de influência política no Fed. Para a Gavekal, esses três diretores podem estar se posicionando para estar entre os possíveis candidatos de Trump para suceder Powell, cujo mandato termina em maio de 2026.
Trump – que apelidou Powell de Mr. Too Late – já disse que quer escolher logo um novo presidente para o Fed.
A Gavekal vê uma queda de juros em julho como pouco provável: “se a maioria dos membros do FOMC quisesse isso, Powell provavelmente teria sinalizado essa possibilidade na semana passada”.
Hoje o mercado futuro precifica uma manutenção da taxa em julho, um corte em setembro, e dois a três cortes entre 50 e 75 pontos-base até o fim do ano – o que está alinhado com a projeção mediana do FOMC.
Apesar de a pressão política sobre o Fed ter aumentado, na prática a Gavekal vê pouca chance de Trump mudar a direção da política monetária porque tem capacidade limitada de alterar a composição geral do FOMC.
O comitê tem 12 membros votantes: sete diretores (um deles é o presidente), o presidente do Fed de Nova York e quatro dos outros 11 presidentes regionais do Fed (todos participam das reuniões, mas votam em sistema rotativo).
O presidente dos EUA nomeia os diretores e o presidente do Fed, mas não os presidentes regionais.
Em janeiro de 2026 termina o mandato da diretora Adriana Kugler. Como ela é moderadamente dovish, segundo a Gavekal, “substituí-la por outro dovish não mudaria muito o placar de votos”.
Mas pode dar a Trump a oportunidade de colocar nesse cargo um nome para assumir a função de Powell em maio.