A informação de que a Shein começará a fabricar suas roupas no Brasil, dada pelo chairman da empresa na América Latina em entrevista ao Brazil Journal, trouxe um misto de surpresa e alívio entre investidores, empresários e empreendedores.

Surpresa, porque o anúncio de que em três anos a Shein terá 80% dos produtos vendidos vindo da fabricação local (enquanto hoje 70% vem da China) mostra uma mudança de rumo inesperada, num momento em que parte do Governo brasileiro tem se manifestado contra a “concorrência desleal” de empresas estrangeiras na venda digital, acusando-as de práticas que burlam as regras de importação de produtos.

Alívio, porque parece unânime a visão de que se a Shein de fato vier a operar no ambiente econômico brasileiro em 80% de seus negócios, dificilmente conseguirá manter as vantagens que hoje ostenta, operando a partir da China.

Isso parece óbvio.

Será que a Shein conseguirá se manter eficiente comprando artigos “made in Brazil”, provando que suas concorrentes locais não são mesmo páreo para ela? Ou a realidade do “custo Brasil” se imporá também a ela, algo que qualquer empreendedor local já conhece a duras penas, e que fez muitos estrangeiros irem embora (vide Walmart, Forever 21 e Fnac)?

Shein, prepare-se para lidar com possíveis autuações e litígios trabalhistas e tributários (estaduais e federais), que geram custos e incertezas por anos sem que o Judiciário os resolva – e fique atenta, porque às vezes ele “resolve” revertendo decisões que já havia tomado.

Shein, converse de antemão com o Ministério Público e outros órgãos oficiais e compreenda como se proteger de contratar fornecedores locais que não praticam a legislação trabalhista, e aprenda como estruturar uma equipe de auditoria própria para assegurar às autoridades que toda sua cadeia de fornecimento está em compliance.

Shein, entenda que os preços praticados pelos seus concorrentes locais parecem elevados perto do que você cobra hoje operando da China, mas que isso não implica dizer que os lucros deles também o sejam. E que o fato de você ter crescido tanto neste país nos últimos anos não quer dizer que o pessoal daqui seja fraco, mas que o ambiente para quem produz e vive aqui é inóspito. Informe-se sobre o custo logístico, os roubos de carga, as milícias e a informalidade, antes de deitar raízes na Pátria amada, mãe gentil.

Shein, pense bem antes de decidir vir para o Brasil. Talvez seja melhor e mais rentável simplesmente produzir na China e pagar os impostos de importação aqui.

Mas, se a decisão já foi tomada, seja bem-vinda. Todos queremos aprender como você consegue ser bem-sucedida no mesmo ambiente onde muita gente boa não consegue competir e prosperar.

Wagner Salaverry é sócio da Quantitas Asset Management, uma gestora de investimentos em Porto Alegre.