Uma das marcas mais celebradas do mundo D2C vai se listar na Bolsa ainda este ano.

A Warby Parker — que ajudou a criar o conceito de digitally native vertical brands (DNVB) vendendo óculos de grau online — decidiu abrir seu capital por meio de uma listagem direta, evitando o processo de IPO tradicional. 

Até agora, as companhias não levantavam capital nas listagens diretas, mas a SEC recentemente mudou a regra e permitiu ofertas primárias.  Tipicamente, a listagem direta serve para acionistas existentes venderem suas posições, e o preço é fixado num leilão — mas sem o processo de roadshow organizado pelos bancos nos IPOs clássicos.

Há exatamente um ano, a Warby Parker foi avaliada em US$ 3 bilhões em rodadas Série F e G totalizando US$ 245 millhões. Ao todo, a empresa levantou US$ 530 milhões até hoje.

A listagem em Nova York vem 11 anos depois que a Warby Parker foi fundada por quatro colegas que estudavam em Wharton. (Um deles havia perdido seus óculos de sol e achou tudo muito caro quando foi comprar um novo.)

A companhia vende óculos por preços que começam em US$ 95.

O faturamento havia aumentado 36% em 2019, mas as restrições da covid fecharam suas 145 lojas físicas por um trimestre e desaceleraram o crescimento para apenas 6% no ano passado, para US$ 393 milhões.

Apesar de ser conhecida pela venda online, a Warby Parker fez 65% de suas vendas nas lojas físicas em  2019 — o que explica o impacto dos lockdowns.  No ano passado, 60% das vendas vieram da web, e o saldo, das lojas físicas.

Depois de ficar no breakeven em 2019, a Warby Parker teve prejuízo líquido de US$ 56 milhões em 2020. 

Mas o fluxo de caixa foi positivo em US$ 13 milhões no ano passado, contra uma queima de caixa de US$ 11 milhões no ano anterior.

Nos primeiros seis meses do ano, a receita da Warby Parker cresceu 53% para US$ 271 milhões, e o prejuízo líquido diminuiu para US$ 6 milhões contra os US$ 10 milhões no mesmo período do ano passado.

O pitch de relevância da Warby Parker: cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso a óculos baratos, e o uso de óculos pode aumentar a renda de uma pessoa em 20%. A cada venda que faz, a Warby Parker trabalha com ONGs para doar um par de óculos a quem precisa.

As duas rodadas do ano passado atraíram a D1 Capital Partners, Durable Capital Partners, T. Rowe Price e Baillie Gifford.  O Tiger e a General Catalyst já eram acionistas.

Numa entrevista à Bloomberg no mês passado, o co-fundador Neil Blumenthal mostrou que, apesar da narrativa de DNVB ter ajudado a atrair investidores, o futuro do varejo é mesmo omnicanal.

“Ainda há espaço para abrirmos centenas de lojas,” disse Neil. “Quando olhamos para os nossos concorrentes — os grandes varejistas óticos listados — todos eles têm bem mais de 1.000 lojas nos EUA. No final do dia, a grande maioria dos americanos precisa de óculos e prefere comprá-los pessoalmente.”